“Carcará, pega, mata e come”. Ave de rapina “passeia” na areia de Boa Viagem

Nos anos 1960, ele era mais conhecido pelas populações rurais,  e chegava a ser confundido até com gaviões.  Primo distante do falcão, o carcará (foto acima) ficou popularizado pela sua valentia na música de João do Vale, que foi o primeiro sucesso da cantora Maria Betânia. Todos lembram de versos como “Carcará, pega, mata e come/ Carcará, mais coragem do que homem”, que ajudaram a popularizar o animal.

Sim, o carcará é valentão, como qualquer ave de rapina.  E tem papel muito importante na natureza, regulando as populações de outros animais. Entre eles, serpentes e pequenos roedores. Com ocorrência na América Latina, incluindo o Brasil, vejo sempre esses animais no bairro em que resido. Nesta semana, me defrontei com um ao abrir minha janela, pousado no galho do pau-brasil, plantado na calçada. Estava a poucos metros de distância.

Mas, mesmo frequentando Boa Viagem desde criança   me defrontei com um indivíduo da espécie pela primeira vez à beira-mar.  Caminhando na areia… Julguei até que estivesse doente mas, de repente, abriu as asas com aquela imponência e voou. Tenho uma filha, Juliana, que mora à beira-mar, na praia de Boa Viagem, mas no décimo terceiro andar.  Por três vezes, a cozinheira colocava a carne para descongelar na varanda, e por três vezes ela sumiu. Ninguém sabia decifrar o mistério, até alguém da casa flagrou a ave voando com o “banquete”. Portanto, carcarás são comuns em áreas urbanas. E hoje integram, por exemplo, a fauna do Recife. Agora, nós estamos mais habituados a vê-los pelos ares e não na areia da praia.

‘Achei estranho me deparar com um carcará na praia, onde normalmente encontro aves marinhas e os pombos inconvenientes, em busca de restos de comida. Mas li que na maré baixa, o carcará frequenta os manguezais em busca de crustáceos. Boa Viagem não é um manguezal, mas o bicho devia ter bom motivo para estar ali, tão tranquilo e caminhando ao lado dos humanos. Além de crustáceos,  ele também devora sapos, serpentes, pequenos vertebrados (como ratos) ou invertebrados.

Rato, já vi um pegar, também, aqui ao lado de minha casa no meio de uma queda. Fugindo da perseguição de um humano, o rato caiu do primeiro andar  (escapou por uma calha) e foi capturado no ar, pelo caracará. Ou seja, o bicho é muito preciso. De outra vez, ouvi uma movimentação ruidosa e fui conferir o que era, da janela de minha casa. Era uma revoada de psitacídeos em voo desesperado, sendo perseguidos por uma dupla de carcarás. Como estavam à distância, não tive como distinguir se era periquitos, jandaias, maritacas.

A ave também tem mania de roubar filhotes de outros pássaros sendo temido e olhado com vigilância e temor por outras espécies. Pior, dizem que é um pirata de primeira. Provoca medo nas gaivotas,  para que estas soltem as presas que carregam enquanto voam. Hábil que só ele, o carcará  pega no ar, com muita precisão, o produto do roubo,  sem fazer muito esforço. É a lei da natureza. A luta pela existência é uma tarefa exercida por uns com mais facilidade. E a sobrevivência é sempre do mais capaz…..

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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife