“Capelinha de melão, é de São João/ É de cravo, é de rosa/ É de manjericão/ São João está dormindo/ Não acorda não/ Acordai, acordai o São João“. Quem não se lembra de ter cantado esses versos, nos tempos da infância, nas festas de meio de ano na escola? E quem é pai, mãe, avô ou avó que, ainda hoje, não vê a meninada interpretando talvez a mais famosa modinha do cancioneiro popular junino? Mas… incrível. Nossos professores nos ensinavam a música, mas nunca explicavam a sua origem. Ainda hoje, não são muitas as pessoas que se perguntam: o que é uma capelinha de melão? Pois aí está, na foto, uma autêntica capelinha de melão.
Tem o melão, os cravos (esses pontinhos pretos, incrustados na polpa do fruto), o São João, as rosas e o manjericão. A foto me foi enviada pelo meu amigo Fernando Batista, que reside em Salvador e foi a uma festa do braço social da Fundação Pierre Verger, naquela cidade. Adivinhem a primeira coisa que ele viu, ao chegar no “arraial”: a capelinha de melão. Mostrei a foto a muitas amigas de minha geração e nenhuma sabia o que era a capelinha de melão. Eu, inclusive, me perdoem a ignorância. A música se baseia, portanto, no costume antigo que as populações tinham de improvisar capelinhas para o São João no melão, com tudo que o santo tem direito: as flores, a erva aromática, os cravos perfumados. Em Portugal, casais distribuem rosas e vasos com manjericão porque, segundo a crença, a prática os “pombinhos” unidos.
No Brasil, essa era a época de adivinhações. Para os que não sabem: a festa de São João foi trazida para o brasil pelos colonizadores portugueses. Em algumas cidades do interior de Portugal – como o Porto – há até desfile de blocos juninos. Blocos, aliás, também podem ser vistos no Recife, durante a Procissão dos Santos Juninos, que acontece no sábado (22), em Casa Amarela, com forrozeiros, quadrilhas e bandeiras. O início da concentração está previsto para 17h, no Morro da Conceição, em Casa Amarela. De lá, as bandeiras dos santos descem ao som de muita música, para o Sítio Trindade, no mesmo bairro da Zona Norte. Alguns blocos que costumam desfilar no carnaval, trocam as fantasias daquela época por roupas juninas e acompanham o cortejo. Para mim, é uma das mais bonitas manifestações do São João no Recife. Pela sua simplicidade.
Embora a festa esteja se descaracterizando no interior – com atrações que nada têm a ver com o forró (como Anita e Alok) – o Recife, felizmente, tem feito esforço para manter a tradição, embora as quadrilhas luxuosas de hoje nem de longe lembrem as matutas do passado. Em algumas cidades do interior não tão famosas, como Riacho das Almas (no Agreste), os gestores preservam o São João tradicional. E de acordo com Fernando, em Salvador, o forró pernambucano é muito exaltado. “Nos bares do centro de Salvador, tocam muito o autêntico forró e muitas canções de Luiz Gonzaga”. E acrescenta: “Ontem me deparei com uma quadrilha de gente com boa idade em um shopping do centro, e o puxador repetia: ‘Vamos saudar o nosso grande Luiz Gonzaga”, comemora meu amigo. E acrescenta: Até me deu saudade das paisagens do Sertão de Pernambuco”.
Veja o vídeo que ele enviou, da festa de São João no terreiro da Casa Branca, um dos mais importantes de Salvador. Até a brincadeira da pescaria, tão comuns nas quermerses de nossa infância tem lá.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Fernando Batista/ Cortesia
Vídeo: Dadá Jaques/ Cortesia