Parece asfalto, de tão espesso que está o leito do Canal Parnamirim, que corta o bairro de Casa Forte. Lixo, lama e esgoto se acumulam, assoreando o que um dia foi um riacho, e deixando sua água cada vez mais poluída, transformando-se em uma massa escura. Lembro-me de sua água cristalina, quando ia, ainda criança, para o Colégio Sagrada Família, que fica ali perto. Dava até vontade de tomar banho, para amenizar o calor.
Há alguns dias, encontrei uma moradora de Casa Forte, que tinha as mesmas recordações. “Fico indignada com o que estou vendo. Casas, condomínios e até clínicas despejam seus esgotos nesse canal”, diz. E lembra que ele “vai se afunilando com a construção de palafitas”. Conta que, quando criança, eram muitos os peixes encontrados ali. “Tinha até muçum, que os homens pescavam para tira-gosto, e uma vez cheguei até a experimentar o peixe”.
O Prefeito Geraldo Júlio (PSB), esteve hoje no local, para inspecionar as obras do Conjunto Habitacional Lemos Torres, que garantirá 192 apartamentos para famílias que ali residem, em condições muito precárias (palafitas). Segundo a Prefeitura, ele “aproveitou” a visita, “para acompanhar o andamento da limpeza do canal Parnamirim, realizada pela Prefeitura do Recife”. Queria só saber quanto a limpeza de canais (que um dia foram rios ou riachos) vai ser prioridade no Recife, inclusive com educação ambiental. O do Arruda é a prova mais concreta de que, limpar só, não adianta. É limpar, urbanizar, sanear, educar, ter eficiência na coleta de lixo, envolver a comunidade. Sem isso, nossos canais vão continuar funcionando como esgotos a céu aberto. O que é lamentável.
No caso do Canal do Parnamirim, “a ação, executada pela Emlurb, começou no último dia 30 de dezembro e deve ser finalizada até o próximo dia 13, com um investimento de R$ 64.130”. Segundo a Prefeitura, os trabalhos de limpeza nos 99 canais que cortam a cidade foram antecipados em 90 dias pelo município e estão em andamento desde o mês de dezembro. Além do canal Parnamirim, outros quatro já passaram por limpeza. Conta um morador antigo da área, Severino Araújo, que já tomou muito banho no riacho. Aos 55 – dos quais 50 residindo ao lado do Canal – ele conta que havia “quatro olhos d´água que desembocavam no antigo riacho”. E lamenta que devido à desordem urbana, todos tenham sumido, e que o riacho principal não passe de um esgoto.
(Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife)