Seu Luís Pereira da Silva tem 72, e já está aposentado há quase 20. Mas todos os dias vai à Universidade Federal Rural de Pernambuco. Sorte que ele mora bem pertinho, e não precisa gastar dinheiro com ônibus. “Buraco”, como é mais conhecido, tem ocupação voluntária, que considera como missão. Ele vai sempre à Ufrpe para regar jardim, onde há plantas decorativas e fruteiras.
Entre estas, uma jaqueira que faz questão de destacar, sem esconder o carinho que tem pela árvore. “Mas ela está quase careca”, destaco, mostrando a copa pouco frondosa. “Aos cem, qual é o homem que também não fica?”, indaga, com bom humor. E depois, acrescenta: “Ela ainda frutifica e dá jacas maravilhosas, doces como mel”. “Buraco” é uma pessoa alegre, de bem com a vida e com a natureza. Eu o encontrei em minha caminhada matinal de hoje. O aposentado não perde tempo para conversar.
Depois de cuidar das plantas, me chama em um cantinho. Mostra o busto em bronze em homenagem ao Professor Francisco de Oliveira Magalhães (1936-2010), no mesmo jardim. “Está vendo esse professor, ele deveria ter sido reitor, mas não foi porque era pobre”, conta. Na placa da estátua, informa-se que o docente foi “eleito pelos movimentos sociais”, mas que “não foi empossado pelo Governo FHC”. Depois de um pequeno histórico sobre a carreira de Chico – como era mais conhecido o professor – a placa diz que na sua vida acadêmica, “ele nunca dissociou a militância política da produção de conhecimentos e tinha capacidade de se indignar diariamente contra as injustiças do mundo”. Vai ver que foi por isso que FHC não o nomeou. Pelo que vejo, são dois figurões: “Chico” e “Buraco”, que também merece uma estátua.
Texto e Foto: Letícia Lins / #OxeRecife