Bonde virou peça de museu e trilhos somem das ruas do Recife sem memória

É impressionante como, ao longo dos anos, o Recife vem apagando sua memória. E o faz sem dó. Dia desses, vendo fotografias e ilustrações antigas, fiquei impressionada com a destruição de arcos que ornamentavam pontes e outras localidades da nossa cidade. E que sumiram, por conta do “desenvolvimento”. Ah, é? E por que, então, em metrópole tão desenvolvida como Paris, o Arco do Triunfo ainda hoje é uma das atrações turísticas da capital da França?

E o que dizer dos bondes? Lembro que ainda andei em um deles, quando criança. E que, logo depois, sumiram do mapa. Enquanto no Recife acabaram com eles, em Praga, Lisboa, San Francisco, Istambul, Varsóvia, Melbourne, Milão e até em Hong Kong ainda circulam, a julgar pelo resultado de pesquisa que fiz na Internet.  Alguns deles, não só testemunhei a circulação, como  os utilizei. Em Lisboa, San Francisco, no Rio de Janeiro. Na Suíça, há cidades onde os velhos bondes convivem com trens de última geração.

Em San Francisco, se você não anda no bonde, pode-se dizer que não conheceu a cidade. E em Santa Tereza, no Rio? O que seria o bairro sem o seu bondinho? Pois aqui no Recife, bonde virou peça de museu. Há um nos jardins do Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, em Casa Forte, na Zona Norte. No Centro, os trilhos que existiam na Avenida Rio Branco sumiram com camadas de asfalto, e depois com o revestimento do Boulevard. Dia desses, ao andar com o Grupo Caminhadas Domingueiras, pelo centro do Recife, vi com um olhar nostálgicos, trilhos de bondes – ainda em bom estado – pelas ruas.

Confesso que foi a primeira vez que os observei. Nunca os tinha percebido em ruas como a das Calçadas e a Vidal de Negreiros, esta no Pátio do Terço. Simplesmente porque era domingo, e as ruas estavam vazias, sem camelôs, sem tráfego intenso, sem gente. Fiquei pensando, e não custa nada sonhar, como seria interessante se a gente tivesse um bondinho, para andar pelas ruas do bairro de São José e do Recife, o chamado Recife Antigo. Aposto que o Recife só ganharia. Mas o que já foi, já foi, e penso que é praticamente impossível trazê-los de volta. Realmente, somos uma cidade que em nada preserva a memória.  E o restinho que sobrou está sendo destruído. Que horror. #OxeRecife

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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