Embora seja um dos principais cartões postais do Recife, a tão querida praia de Boa Viagem vem enfrentando uma série de agressões que não se restringem apenas à falta de segurança e à violência contra barraqueiros, que trabalham duro por todo o dia. E que, à noite, têm seus quiosques arrombados e furtados. No último domingo, troquei a caminhada que sempre faço na areia (quando a maré está baixinha) por um trecho no calçadão, de onde me deparei com a cena que vocês observam na foto.
Ou seja, mesmo sofisticada e com um dos metros quadrados mais caros da cidade, a Avenida Boa Viagem não é exceção da regra, quando o assunto é o deficit (e a bagunça) de saneamento no Recife. É muito chocante andar na praia e se deparar com essa língua escura na areia. Ela existe e fica em frente ao Edifício Ambrósio Trajano (número 3650). Em plena beira- mar, há uma tubulação de esgoto que deveria levar apenas as águas pluviais ao oceano.
Mas a julgar pela fedentina, tudo indica que ali tem sim, também, despejo de esgoto doméstico. E muito, não é pouco não. Fedia mais do que o Pina, nos tempos em que todo o esgoto do Recife era derramado naquela praia por um gigantesco emissário de ferro que, ainda hoje – embora sem utilidade – sobrevive no local. Como o Recife padece da falta de saneamento (só 30 por cento dos domicílios o possuem na cidade) e não é difícil que as águas se misturem nessa temporada invernosa.
E a mistura de esgoto doméstico com as águas pluviais não se restringe à praia de Boa Viagem, na Zona Sul. A cena não é incomum. Hoje, em minha caminhada matinal, andei por altos do Recife (é preciso fazer treino em ladeiras). No Alto do Mandu, na Rua Mandacaru, me deparei com esgoto transbordando aos borbortões, seguindo a inclinação do meio fio e entrando na galeria de águas pluviais. Vi a mesma situação na Rua Alto Santa Isabel. E, ao final do meu roteiro, observei a mesma coisa na esquina da Rua Dom Malan com a Avenida Dezessete de Agosto, já no bairro do Monteiro.
Se nos outros bairros essa situação é grave, em Boa Viagem torna-se ainda pior. Pois é provável que os banhistas estejam expostos à contaminação naquela área. O que vi foi um lago de água suja, escura, de esgoto. Resta saber de quem é a culpa por esse absurdo. A Compesa ou a Prefeitura? Cadê a saúde pública, não vê isso não? E a Cprh, onde é que está? Será que ninguém fiscaliza para saber de quem é a responsabilidade? Ninguém leva multa? E a saúde do banhista como é que fica? Caso o Estado fique omisso, a tendência é que cenas como essa se repitam. E a praia termina correndo o risco de virar o que o Rio Capibaribe se transformou: um esgoto a céu aberto.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife