Não é difícil organizar a orla na Zona Sul. Lembro-me que até 2015 – por aí – era impraticável andar pelas calçadas de Boa Viagem, durante os finais de semana. Elas eram tomadas por carroças de ambulantes, motos, carros estacionados, mercadorias. Um desastre. Como banhista e pedestre, cheguei a ouvir muitas gracinhas de mau gosto, quando reclamava de motos trafegando nas calçadas, ameaçando nossa segurança. A Secretaria de Mobilização e Controle Urbano (Semoc) conseguiu eliminar o abuso. Felizmente deu um basta. E tem marcado presença na praia. No feriadão, os fiscais, guinchos e até viatura de polícia estavam lá, para evitar repetição das antigas infrações.
Perguntei a um dos fiscais porque operações como a que vi no dia 7 de setembro não eram feitas, também, para combater a prática adotada por muitos ambulantes, que deixam lixo na areia da praia (garrafas ostras, espinhas de peixe, verduras, cocos). Os porcalhões são sempre os mesmos. Portanto, não custa nada repreender, multar e até cassar a licença de quem não faz o dever de casa. Mas o fiscal da Semoc, muito delicado por sinal, foi logo respondendo. “A nossa ação diz respeito à Semoc, limpeza é com a Emlurb”. Ora, se os órgãos de segurança fazem tantas operações conjuntas, porque a Prefeitura não mostra a mesma eficiência em fazer um “pool” para salvaguardar aquele que é um dos principais cartões postais do Recife? Por que não junta as forças de seus órgãos para desencadear, também, operações coletivas para o bem comum? Será que isso é tão difícil? Afinal, não é pelo fato de a praia ser lazer mais barato e democrático do Recife, que se deve entregar a orla à ação daqueles que não zelam por ela.
Onde está a aptidão de coordenar, de somar esforços, de trabalhar em conjunto? Diz o velho ditado que a união faz a força. No caso da praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, a impressão que se tem é que falta ao gestor público um pulso forte para disciplinar melhor a nossa orla. Disciplinar, aliás, não é preencher a areia com guarda-sóis da mesma cor (o amarelão) ou distribuir cadeiras e caixas de isopor com propaganda de alguma empresa. Disciplinar é evitar que a sujeira da praia fique impune, que faça o controle o som de trio elétrico dos carros de venda de CDs piratas, que se cumpra a lei quanto à presença de animais, cujos donos fazem questão de deixar o cocô dos bichos na areia, com risco de contaminação de adultos e mais ainda de crianças.
Cadê a Secretaria de Saúde? Cadê a Emlurb? Por que não se junta todos esses órgãos e não se dá início a ações educativas e, depois, punitivas? Enquanto nada acontece, nós, que frequentamos a praia de Boa Viagem, fazemos, sozinhos, nossa cruzada. Eu e algumas amigas. Também colhemos plásticos pelo chão. Vamos Conversando com quem joga lixo na areia, constrangendo quem deixa o cocô do cachorro na praia, pedindo aos ambulantes que não deixem canudos nem copos na areia. Mas pelo que vejo, conversar, só, não adianta. Por isso, continuo pensando que, com todo aquele aparato que vi no final de semana, ficava muito fácil, mas muito fácil mesmo, punir os ambulantes que não usam sacos de lixo nem depósitos para jogar seus detritos e utilizam a areia da praia como lixão. “A Emlurb recolhe tudo depois”, é o que alegam, quando reclamo da sujeira. Ou seja, a Emlurb sabe da prática, mas nada faz para coibi-la. A sugestão do #OxeRecife é que sejam desencadeadas operações para fiscalizar, também, a sujeira da praia. É só notificar, punir ou cassar o direito de comercializar na praia, para aqueles que não se enquadram no que diz a lei. Lei existe. É só exigir o cumprimento. Conheço ambulantes que não permitem que o cliente jogue, sequer, uma casca de camarão no chão. E porque todos não agem – ou não são induzidos – a seguir essa prática? É preciso consciência.
Leia também:
Boa Viagem com a cor do PSB
Cães na praia: ninguém cumpre a lei
Boa Viagem é local de estresse?
Sanitários sem portas em Boa Viagem
“Cachoeira” diverte em Boa Viagem
Texto e foto: Letícia Lins/ #OxeRecife