Boa Viagem: Exploração e desconforto

Considerada uma das melhores praias urbanas do Brasil – devido ao seu mar manso e tépido – a praia de Boa Viagem virou alvo de reclamação dos banhistas nesse feriadão. É que eles foram obrigados a pagar “consumação mínima” de R$ 50, para ter direito a sentar em uma das cadeiras ofertadas pelos barraqueiros  na areia. A prática não foi em toda a orla, mas estava valendo em um longo trecho  entre  o terminal e as esquinas das ruas Ribeiro de Brito e Bruno Veloso, onde ficam vários hotéis. Resultado: montões de cadeiras vazias como vocês podem observar nas fotos.

Com cobrança de R$ 50 de consumação mínima, o que não faltou foi cadeira vazia, hoje, em Boa Viagem.

Antes da pandemia e até o início do verão, os banhistas normalmente eram abordados por barraqueiros logo ao chegar no calçadão. “Cadeira, cadeira, só paga o que consome”, diziam para atrair clientes. Eu, por exemplo, não bebo nada nem tenho costume de comer petiscos na praia, principalmente crustáceos como lagostins e camarões, que são comercializados em balaios ao sol sem nenhuma refrigeração que lhes garanta bom estado para consumo. Vez por outra, bebia um caldinho ou comia uma caldeirada, mas só de pessoas já conhecidas e cuidadosas com a limpeza. Mas normalmente, tomava só mesmo um coco verde.  Não era barato: R$ 5, quando no resto do Recife se achava até a R$ 1,50. Mas pagava com gosto, porque sei que o barraqueiro tem também seus custos. Com a pandemia, passei a  não consumir mais nada, para não ter que estar passando álcool nas mãos o tempo todo. Levo de casa até a água.

Diante de consumação mínima de R$ 50 por cadeira, muita gente decidiu espalhar seus pertences na areia da praia.

E também levo a cadeirinha, já que a higienização ditada pelos protocolos de segurança parece ser bem mais branda na areia. Mas quem não levou seus apetrechos era só reclamação. “Sempre trago minha barraca, mas hoje deixei em casa por comodismo e estão cobrando R$ 50 de consumação mínima por cadeira”, reclamou um rapaz que estava ao meu lado, com uma criança. Mochila, brinquedos, boias, baldinhos, tudo espalhado na areia. Se a pessoa não pretendesse consumir, tinha que pagar aluguel da cadeira. Os preços variavam, entre R$ 15 e R$ 20. Ou seja, em questão de preços à beira-mar, Boa Viagem está ficando igual a Porto de Galinhas, onde o “aluguel”  da cadeira na areia custa os olhos da cara. Já fui abordada no famoso balneário  do Litoral Sul várias vezes, porém sempre com a mesma  resposta. “Não sou turista” (para não ser tão explorada, claro…)

Diante da exorbitante exigência  também em Boa Viagem, muita gente decidiu sentar no chão ou deixar sacolas e bolsas na areia. Fiz minha caminhada, mas depois – sentada e lendo o meu livrinho – o que não faltava era gente botando roupa, brinquedo, carteira, sapato, sandália ao meu lado, com a pergunta inevitável: “Pode dar uma olhadinha?”. O que sempre acontece na praia. Mas hoje, os pedidos foram oito vezes mais frequentes do que antes da “consumação mínima”. O pior é que, na praia, quase ninguém usa máscara na areia e fica falando bem pertinho, em cima de você, quando lhe faz esse tipo de pedido. Entrei na água, dei meus mergulhos e… voltei para casa. Em tempos de pandemia, ainda não dá para relaxar. Mas o sol estava maravilhoso e a praia (quiosques detonados à parte) linda, como sempre. Agora, resta saber: o que dizem os órgãos públicos? Consumação mínima na cadeira da praia é permitido? Ou é abuso?  E a fiscalização, onde estava? Com a palavra, a Prefeitura que é quem disciplina o uso da areia para ambulantes.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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