Big Bompreço: big festa e big inferno

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É impressionante a sede de consumo da população. Mesmo em tempos de desemprego e vacas magras.  Foi só o Walmart mudar o nome para Big Bompreço e anunciar uma série de promoções, para ser invadido por uma verdadeira multidão, em busca de tudo de quanto era mercadoria. A loja de Casa Forte parecia um formigueiro ao longo da semana de inauguração da nova marca, com  gente quase às tapas, disputando desde um quilo de frango congelado até TVs de 43 polegadas.

Verdade seja dita: realmente alguns preços valem a pena: leite Ninho por R$ 14,90 (sachê de 800 gramas) é quase inacreditável, pois o produto chega a ser comercializado pelo dobro no varejo do Recife. Até porque a última promoção do popular e delicioso leite em pó marcava R$ 19 nos mercados da Zona Norte, mas o estoque não chegava para quem queria. Uma vez, durante minha caminhada matinal pelo bairro de Casa Amarela, vi o sachê de 800 gramas a R$ 19. Como não gosto de caminhar com peso,  resolvi comprar no retorno. Mas ao voltar da caminhada, a prateleira já estava vazia.  “Acabou a promoção”, disse-me a vendedora. O estoque tinha voado em menos de meia hora. Nos supermercados do mesmo bairro (incluindo o Bompreço) o valor do mesmo produto varia entre R$ 23 e R$ 28. No próprio Walmart, na semana passada  – antes de virar Big Bompreço – havia promoção por R$ 19. E pelo tempo de duração nas gôndolas da loja, o estoque devia ser imenso!

Por conta dos R$ 14,90 (o menor observado), tinha gente no Big Bompreço tentando levar caixas e mais caixas do Leite Ninho. Mas, sabiamente, a empresa só permitia a aquisição de duas. Afinal, a loja é de varejo e não de atacado. “Estou comprando, para revender cada sachê a R$ 22”, confessou-se uma mulher com o carrinho abarrotado de compras, que não deviam ter como destino a mesa da família.

Queijo prato Regina também estava com preço até R$ 30 inferior (o quilo) aos registrados em outros supermercados, inclusive no próprio Walmart, antes da mudança.  Arroz Emoções era comprado aos borbotões, quase de graça. Uma festa! Frutas e verduras, no entanto, não tinham grande diferença em relação a outros locais. E eu terminei trazendo gato por lebre. Como gosto muito de laranja mimo-do-céu, que geralmente é marcada com X em supermercados, me guiei pela letrinha mágica. Mas ao descascar o fruto em casa, percebi que era laranja pera, que é bem mais barata.  Deve ter sido confusão, por conta do excesso de movimento. Mas não voltei para a troca. Entre o pequeno prejuízo e o inferno (de gente), decidi ficar com o primeiro e as laranjas não tão doces quanto as mimos.

Também não gostei da inexistência de fila para pequenas compras. Se a pessoa compra só 20 volumes, por que ficar em filas quilométricas, disputando a vez de ser atendido com até três carrinhos cheios? E os idosos? Poucos caixas, para tanta gente “coroa”, como eu. E um deles terminou sendo destinado só a consumidores de eletrônicos. Idoso virou TV, foi? Também pudera, havia consumidor levando até três televisores.  Para que tantos? Tudo porque um aparelho de 43 polegadas tinha sido dado como promoção. “Corre, que está barato”, dizia uma mulher ao meu lado.

Enquanto isso, no meio do lojão, eu tinha a impressão de estar não no supermercado de um bairro sofisticado, como Casa Forte. Mas no comércio da Rua Direita ou das Calçadas, com o vendedor gritando ao microfone as “promoções”, os “presentes” do dia. “Batemos um recorde histórico e nesse momento estamos vendendo TVs de 43 polegadas… “. Em um minuto, estava cercado de gente querendo os aparelhos a R$  1.349 (diziam os que disputavam as TVs,  que  o modelo oferecido chega a mais de R$ 2 mil em outras lojas). Correria, empurrão, gente levando o carrinho com até três aparelhos. Uma festa, que quase vira inferno. Normal,  acredito, para  um lojão que, no primeiro dia, viu consumidor quase ser pisoteado, em busca de um frango congelado a  R$ 2,98 o quilo. Pela cotação de preços da Ceasa, o quilo de frango abatido pode ir de R$ 5,99 (congelado) a R$ 6, 83 (resfriado). Como um frango pesa, em média 3 quilos, uma unidade estava saindo a menos de R$ 9 no Big Bompreço. Em outros locais,um frango abatido, do mesmo tamanho, chega a ser vendido até por R$ 21.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife 

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