“Estar no Recife, só sabe quem é do interior, é como caminhar dentro de um cartão postal”. Foi assim que o jornalista e escritor Cícero Belmar descreveu a sensação de ver a capital pela primeira vez, onde chegou ainda adolescente para estudar. Natural da cidade sertaneja de Bodocó, ele recebeu o título de Cidadão do Recife, hoje à tarde, na Câmara Municipal. Sensível, emocionou-se durante o seu discurso ao lembrar os primeiros tempos da cidade grande, que se mostrava “áspera e hostil para quem, como eu, queria se ver no espelho”.
E descreveu o que representa a Capital, para aqueles que vêm de tão longe. No caso dele, de um município 649 quilômetros distante. “O Recife é a cidade dos sonhos de todos os pernambucanos que nascem e moram no interior. Todo sertanejo de minha qualidade quer colocar os pés na praia de Boa Viagem; pular no carnaval mais democrático do mundo; se emocionar com as manifestações artísticas e culturais, que temos convicção serem as mais belas do universo. Temos orgulho da história de nossa capital. E a amamos pelo frevo, pelo maracatu, pelas pontes, igrejas, casarões, rios”.
Ele fez um retrospecto da infância no Sertão, das descobertas ao chegar no Recife e da trajetória desde os tempos da Casa do Estudante. Falou da passagem pela universidade, do trabalho na Imprensa, e da carreira de escritor até chegar à Academia Pernambucana de Letras, onde toma posse na próxima sexta-feira como o mais novo imortal do Estado. ”Vivi as grandes alegrias da juventude e também as frustrações. Foi aqui, terra das revoluções, onde encontrei atrevimento para viver minhas revoluções pessoais”, disse. E acrescentou: “O Recife me acolheu, me deu tapa na cara, puxou meu tapete, me deu tudo de bom que eu tenho, me ensinou muitas coisas. Nesta cidade, recolhi impostos pela primeira vez e votei, me fiz cidadão de fato. Hoje, oficialmente, eu sou eu”.
“Eu conhecia a cidade através de fotos e pelas letras dos frevos de bloco e frevos canção, feitos pelos amantes dessa terra e dessas águas”, lembrou, afirmando que aquele vai e vem de gente, os prédios altos – “que achei imensos” – provocaram lhe provocaram “o primeiro choque de realidade”. Ele lembrou que no Recife se formou em jornalismo e construiu sua carreira profissional. Como repórter, conheceu “o lado triste da cidade, seus dramas sociais, a história das pessoas” e foi assim que consolidou “o desejo de ser escritor”. O título foi conferido por unanimidade, por sugestão da vereadora Aimée Carvalho (PSB). O Vice-Prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PC do B) também compareceu à cerimônia e fez discurso. Luciano nasceu em Natal e também é cidadão do Recife. Belmar é autor de romances, biografias, peças de teatro e livros infantis. Entre seus livros mais conhecidos encontram-se Umbilina e Sua Grande Rival e Rosellini Amou a Pensão de Dona Bombom.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife