Dia do Baobá: Verdades e mitos sobre a árvore mágica, sagrada e agregadora

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Falam tantas coisas do baobá, árvore de origem africana, que é tida como o maior colosso vegetal do mundo. E que marca presença tão forte em Pernambuco,  que o estado chega a ser considerado “o coração da espécie no Brasil”, de acordo com  John Rashford, Professor do Departamento de Antropologia e Sociologia na Universidade de Charleston, nos Estados Unidos. Ele é um dos maiores especialistas na espécie e já esteve no nosso Estado para estudar os exemplares aqui plantados.

O pernambucano tem uma empatia grande com essa árvore mágica, sagrada e agregadora. Onde estiver um baobá, há sempre gente perto,  fazendo preces, curtindo-o, abraçando-o. Ou aproveitando as suas gigantescas raízes para descansar, conversar, como ocorre no Jardim do Baobá, no bairro das Graças, que recebe visitantes não só do Recife, mas do mundo. Em alguns lugares, como na Bahia, os baobás são sacralizados nos terreiros de candomblé.

Sobre a planta, rolam muitos mitos. Há até quem tenha espalhado que sua flor lindíssima só desabrocha a cada meio século. Há quem diga que um baobá dura até 6 mil anos, julgando – portanto – que a planta seja eterna. Será que ela é assim, tão resistente ao ponto de suportar toda sorte de maus tratos?  Na África, de onde o baobá veio, a árvore tem extrema importância para as comunidades do continente, principalmente nas áreas rurais, pois dela por lá tudo se aproveita. No Brasil, o baobá cresce naturalmente como na África? Onde ela é mais presente no nosso país? E quais seus significados?

Para falar sobre verdades e mitos da planta mágica, o #OxeRecife fez cinco perguntas ao antropólogo e doutorando Fernando Batista, o maior semeador de baobás do Brasil.  Para ele, nenhuma árvore mobiliza mais o mundo afetivo do pernambucano que o baobá. Fernando me envia  fotos que lembram a história dos baobás em Pernambuco. Atualmente ele mora em Salvador, onde faz doutorado na Universidade Federal da Bahia.  E o baobá, claro, é o alvo – como sempre foi –  de suas pesquisas. A planta já lhe rendeu vários trabalhos acadêmicos, inclusive o título de mestre em Antropologia pela Ufpe.  Em Salvador, Fernando agora investiga  a possível relação entre a árvore sagrada e a chamada família da palha do candomblé, representada por orixás como Naná, Omulu, e Oxumaré.

Confira a galeria de fotos (em ordem cronológica) que mostram como o baobá aproxima as pessoas:

Nenhuma árvore mobiliza mais o mundo afetivo do pernambucano que o baobá 

#OxeRecife – É verdade que o baobá é uma árvore agregadora?
Fernando Batista – Em países da África, é sagrada pelas funções sociais que assume, por alimentar, curar e até servir como sarcófago! Além disso, vincula-se aos chamados griôs, aquelas figuras que João Cabral de Melo Neto qualificava como sendo “misto de lacaio, poeta e alugado historiador”. Em geral, é uma árvore que se vincula a respeitáveis anciãos em torno dos quais e a partir dos quais várias gerações se entrosam, agregando todas elas. Ou  seja, é uma árvore que nos liga àqueles eu vieram antes de nós, àqueles que nos são contemporâneos e àqueles que virão depois de nós.

#OxeRecifeTem quem diga que sua flor só brota a cada 50 anos. Verdade ou mito?
Fernando Batista – Apesar de ser a mitológica árvore imortal de dimensão colossal citada por antigas escrituras indianas e considerando o sentido de mito para a Antropologia, isso é fake mesmo. Os baobás recifenses, por exemplo, florescem todos os anos.

#OxeRecife – Dizem ser a árvore o maior colosso vegetal do mundo, chegando a viver mais de 3 mil anos. No entanto, um exemplar na Praça do Campo Santo, em Santo Amaro, morreu por maus tratos, vítima de vandalismo, aqui no Recife. Como se explica?
Fernando Batista – Uns até dizem que a árvore chega a viver 6 mil anos, porém mais seguro é afirmar que alcança os 1 mil anos, conspirando o título que recebeu de botânicos franceses: “árvore dos mil anos”. Infelizmente o poder de extermínio de nós, seres humanos, sobre outros seres da Terra é nefasto: não há baobá que resista! Aquele que havia na Praça do Cemitério de Santo Amaro até 1987 não resistiu à urina de tantos.

#OxeRecife – Sabemos que o baobá não é árvore nativa, mas no Recife e em Pernambuco perdemos as contas de quantos exemplares temos. A espécie está integrada à paisagem da cidade e do estado. No Brasil, no entanto, o baobá não nasce sozinho. Verdade ou mito?
Fernando Batista – Sim… perdemos as contas de quantos baobás temos espalhados por aí. Mas me parece que é uma espécie que apenas rompeu a barreira geográfica, não a ambiental, ainda. Pois aqui ele até nasce sozinho, mas não vinga se dele não cuidarmos. Diferente de outras espécies exóticas africanas, que por aqui vicejam como mato, já ambientadas, como é o exemplo do dendezeiro.

#OxeRecife – “O Recife é a cidade dos baobás e que “Pernambuco é o coração da espécie no Brasil”. Verdade ou mito?
Fernando Batista – Segundo o etnobotânico jamaicano John Harvey Rashford, verdade. Rashford (autor das colocações acima) já investigava a presença dos baobás na América Central, quando veio ao Recife pela primeira vez, há quase 20 anos. E embora o pesquisador tenha se surpreendido com o quantitativo de baobás por Pernambuco – ele percorreu muitas cidades pernambucanas – o que o surpreendeu mesmo foi a história por trás de muitos desses baobás. Como eu costumo dizer, nenhuma árvore mobiliza mais o mundo afetivo pernambucano que o baobá!

#OxeRecife – Dizem que você é o maior semeador de baobás do Brasil e que já os plantou em mais de 20 cidades brasileiras. Verdade ou mito?
Fernando Batista – Não lembro quantos já plantei. Mas lembro que essa estória começou há pouco menos de 20 anos e que assegurei que os baobás germinados por mim estivessem em três lugares que amo no Brasil, nessa exata ordem: a Oficina Cerâmica Francisco Brennand, no Recife; e nas cidades de Salvador, capital da Bahia, e Brasília. De modo que o que me lembro é que meus primeiros baobás foram doados a Francisco Brennand, em 2003. Logo depois, comecei a levar baobás do Recife para serem plantados nos terreiros de Candomblé da Bahia. Mas quando se trata de baobá, dados qualitativos são mais importantes do que dados quantitativos. É saber as histórias que passaram a ser tecidas a partir de cada baobá plantado.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Hans Manteuffel / Fernando Batista / Acervo pessoal

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