Bandas de pífanos no mesmo caminho do Frevo

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Há alguns anos, nessa minha vida de repórter, estava na comunidade quilombola Conceição das Crioulas, em Salgueiro – a 518 quilômetros do Recife – quando ouvi uma música linda. Fui procurar de onde emanava. Então, me deparei com uma banda de pífanos, que ensaiava na sacristia vazia de uma capela. E o fazia, indiferente ao calor sufocante do templo, com todas as janelas fechadas. Outra vez, passeava pelo calçadão de Porto Seguro, no Sul da Bahia, quando ouvi o sonzinho característico. Era um grupo daqui de Pernambuco, contratado para animar a chamada “Passarela do Álcool”. Tanto na caatinga de Pernambuco quanto no Litoral da Bahia, a sensação foi a mesma: emoção e arrepios. Eu, como boa pernambucana, adoro “pife”.

Pois, com relação aos pífanos, há uma notícia boa e uma ruim. A boa é que a Produtora  Página 21 deu início à pesquisa e mapeamento sobre as bandas de pífanos de Pernambuco, onde o produtor cultural Amaro Filho, estima que haja uma centena. Destas, 50  foram catalogadas até agora. O levantamento já foi realizado nos sertões do Moxotó e do Pajeú. E também na área central do Agreste. Trata-se de um trabalho detalhado e cuidadoso, com o objetivo de fazer com que essas bandinhas lindas conquistem o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial. Ao mesmo tempo, foi realizado, também, o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), como meio de inventariar e catalogar os grupos, cuja maior parte reside nas áreas rurais. O trabalho, como é de praxe, teve acompanhamento do Iphan.

(Veja o vídeo da Banda Zé do Estado)

Agora, falta fazer apenas a terceira etapa da pesquisa, para concluir a documentação necessária ao processo de registro. Sem a conclusão, toda a burocracia emperra no IPHAN. A parte final da pesquisa deveria ser realizada nos sertões de São Francisco, Araripe e Itaparica. Mas quando ocorrerá? Ninguém sabe. Porque, aí vem a notícia ruim: o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) não aprovou a proposta da Página 21, para concluir a pesquisa. Pelo visto, não deu o valor devido aos pífanos. As bandinhas querem percorrer o mesmo caminho do Frevo, que foi inscrito em 2007 no Livro de Registro de Formas de Expressão. Cinco anos depois, seria considerado pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade.

Em 2016, foram apresentados 1561 projetos ao Funcultura. Destes, 1300 foram acatados e receberão verbas oficiais, dos quais 35 são relativos à música. Mas nenhum tostão foi destinado ao projeto para conclusão de pesquisa tão importante. Comandando a Página 21 há 15 anos, Amaro Filho relatou a dificuldade durante palestra no Minicurso sobre Tutela de Interesses Difusos, realizado na Faculdade de Direito da UFPE, onde deu um show de conhecimento sobre o “pife” não só em Pernambuco, mas no Nordeste e no mundo. “Não entendo porque o Funcultura não aprovou o nosso projeto, em 2016, principalmente porque a pesquisa apressaria o Registro”, diz. #OxeRecife também não entendeu nada….

(Foto: Amaro Filho / Para #OxeRecife)

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4 comments

  1. Sem contar que trata-se do terceiro ano que o projeto é submetido e eexplicitado que a memoria desse precioso bem é oral e guardada por pessoas muito idosas.
    Nao ha politica publica, falta discernimento aos julgadores, sobra desreipeito a preservecao e salvaguarda dessa historia.

  2. Excelente matéria. Muito sensível e relevante diante do que é nosso rico patrimônio cultural. Pena que isso não seja compreendido por gestores e agentes culturais que definem decisões importantes como as do FUNCULTURA… Justamente um mecanismo para dar apoio a estas iniciativas.

  3. Na verdade 1300 projetos foram habilitados para avaliação dos pareceristas e 293 projetos aprovados no Edital do Funcultura 2015/2016.
    Segundo o .pdf “Projetos habilitados – 1º Fase FUNCULTURA Edital 2015/2016” na área de Música só teve APENAS 4 pesquisas inscritas sendo um projeto contemplado. Os projetos que concorreram na linha de pesquisa (linha 2) em Música foram:

    1357/2016 PEsado HC
    Wilfred de Albuquerque Gadêlha Junior
    1636/2016 PESQUISA SONORA: CAPTAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO E REPRODUÇÃO
    Karuna Sindhu de Paula Silva
    2091/2016 A CENA RAP EM RECIFE E CARUARU: DEMARCAÇÕES TERRITORIAIS, DE GÊNERO E GERAÇÃO
    Jaileila de Araújo Menezes
    2163/2016 MAMBOS DE A a Z (FORMIGA NO ARQUIVO) -LEVANTAMENTO DE COMPOSIÇÕES
    Plural Projetos e Produções Artísticas LTDA

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