Costumava dizer o nosso queridíssimo e saudoso Ariano Suassuna, que as pessoas – por mais letradas, acadêmicas ou intelectuais que fossem – não poderiam nem deveriam ter preconceito com a cultura regional ou popular. Até porque foi nestas que ele se inspirou para construir sua obra magistral. E que também serviu de base para criar o Movimento Armorial, que dá tratamento erudito à arte popular. “Toda cultura antes de ser universal foi local um dia”, me disse certa vez. Agora, uma das obras mais populares do autor de A Pedra do Reino acaba de ganhar tratamento especial.
É que depois de virar filme, teatro e fazer sucesso na TV, O Auto da Compadecida vira ópera. É o que anuncia a Orquestra Ouro Preto, que a partir de novembro apresenta-se em três capitais brasileiras com o espetáculo, cujos figurinos são assinados por Dantas Suassuna, artista plástico, filho do escritor. Pena que o Recife ainda não está incluído na turnê. Auto da Compadecida, a Ópera, passará por São Paulo (em 5 e 6 de novembro). Depois, a montagem chega ao Rio de Janeiro (dias 29 e 20 de novembro). E, em 9 e 10 de dezembro , apresenta-se em Belo Horizonte. “A história de Chicó e João Grilo recebe uma versão sem precedentes e reúne em palco uma verdadeira constelação para apresentar uma ópera buffa brasileira em dois atos”, informa a produção do espetáculo. A música é original e traz a assinatura de Tim Rescala. O compositor assina o libreto junto com o maestro Rodrigo Toffolo (foto central), regente titular da Orquestra e responsável pela concepção e direção musical do espetáculo.
Auto da Compadecida, a Ópera é a terceira incursão da Orquestra no universo operístico. E pode ser considerada um marco na maturidade da formação mineira que agora, com 22 anos de trajetória, propõe um projeto ainda mais ousado rumo a uma linguagem brasileira e popular. As duas anteriores foram O Basculho de Chaminé e O Grande Governador da Ilha dos Lagartos, ambas em português. “Quando se pensa na ópera brasileira, em libretos, em histórias, O Auto da Compadecida tem um gosto todo especial, não só pela escrita de Suassuna, não só pelo sucesso que a peça e o filme fizeram com o público brasileiro, mas pelos ingredientes que essa obra prima da literatura brasileira inspira para uma grande ópera”, afirma o Maestro Rodrigo Toffolo.
“Estamos felizes por tentar algo novo, com DNA brasileiro. São quase dois anos de pré-projeto para trazer uma proposta para a linguagem da música de concerto”, completa Toffolo. Para abrilhantar ainda mais a produção, trazendo para o palco as raízes da obra de Ariano, o espetáculo conta com figurinos desenhados por Manuel Dantas Suassuna, artista plástico de renome e filho do escritor, que sempre teve muita identidade com a estética da obra do pai. Essa parceria traz ainda um maior enraizamento à montagem, agregando o olhar e a criação de quem nasceu, viveu, conhece e reconhece este universo como poucos.
Em sua terceira parceria com a Orquestra Ouro Preto, Tim Rescala, que assina a música original, ressalta dois desafios: o primeiro seria se manter fiel ao eixo principal da obra, seu esqueleto, sua estrutura básica, sem corrompê-la. O segundo seria, ao mesmo tempo, gerar algo novo. Para ele “a melhor forma de se reverenciar um clássico não é sendo conservador, mas sim sendo livre, transformando aquilo que foi criado em uma outra coisa. Por isso que a gente chama a montagem de ópera buffa brasileira: ela procura ser popular, ter contato direto com a plateia, mas criando algo diferente. A gente espera ter encontrado esse novo formato”, adianta o compositor Tim Rescala, que assina a música original. O Maestro Rodrigo Toffolo ressalta o caráter universal da música composta para a ópera e a maneira singular que Tim tem de agregar sua assinatura a essa parceria.
“O Tim tem uma escola, tem uma maneira de compor e de pensar música de cena muito diferenciada no Brasil. Um dos maiores nomes da composição nacional, a experiência teatral e de televisão que ele tem, fazem dele a pessoa ideal não só para compor essa música original, mas para trabalhar com o que a Orquestra anseia em cena. Foi um trabalho incrível do Tim, uma música belíssima. E tenho certeza de que o público vai ficar feliz com o resultado e muitos vão dizer aquela frase que tanto nos traz alegria de ouvir: ‘só a Orquestra Ouro Preto para fazer isso’”. Ariano nasceu na Paraíba, mas veio morar ainda criança em Pernambuco. É a segunda vez que a orquestra mineira reverencia a obra de pessoas que moraram ou nasceram no estado. O outro homenageado foi Alceu Valença, no espetáculo Valencianas.
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SERVIÇO
Orquestra Ouro Preto: “Auto da Compadecida, a Ópera”
São Paulo
Data: 5 e 6 de novembro de 2022
Horário: sábado às 21h e domingo às 19h
Local: Teatro Alfa(R. Bento Branco de Andrade Filho, 722 – Santo Amaro, São Paulo)
Ingressos: No Sympla e bilheteria do teatro
Rio de Janeiro
Data: 29 e 30 de novembro de 2022
Horário: 21 horas
Local: Cidade das Artes Bibi Ferreira(Av. das Américas, 5300 – Barra da Tijuca)
Ingressos: No Sympla e bilheteria do teatro.
Belo Horizonte
Data: 9 e 10 de dezembro de 2022
Horário: 21 horas
Local: Palácio das Artes(Avenida Afonso Pena, 1537 -Centro)
Ingressos: No Eventim e bilheteria do teatro
Informações: www.orquestraouropreto.com.br
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Orquestra Ouro Preto