Atentado estético no Cais da Jaqueira

Mais um atentado estético no Recife. Entre os muitos que se praticam na cidade. Pior, por parte da gestão púbica. Realmente, falta uma tonelada de sensibilidade aos nossos gestores, que parecem teimar em tornar feio o que é bonito. Já toquei neste assunto aqui e volto a bater na mesma tecla. Em nome da economia de energia,  vários locais tradicionais e até históricos do Recife vêm perdendo suas luminárias tradicionais, que são mantidas e valorizadas em qualquer cidade do mundo. Até mesmo aquelas mais cosmopolitas e famosas da Europa e dos Estados Unidos.

Depois de retirá-las de áreas de preservação, de pontes, de praças históricas, a Prefeitura agora substitui todas aquelas que embelezavam o Cais da Jaqueira, um dos bonitos cartões postais da cidade. Deve estar fazendo a mesma bagaceira – ou deverá fazer – no Cais de José Estelita, que tem luminárias tão bonitas quanto as que havia na Jaqueira. Conversei com uma amiga que trabalha com arquitetura e urbanismo e ela disse que a adaptação poderia ser feita, sem necessidade de troca das antigas luminárias de rua. No Recife, parques (como o da Jaqueira e o da Macaxeira), praças (como a da República, a Maciel Pinheiro e a de Apipucos) e pontes estão perdendo o charme anterior, para colocação desses monstrengos de lata pintados de tinta preta, alguns dos quais nem laterais de vidro possuem,como vocês podem observar na foto.

Realmente um desrespeito à estética da cidade e uma prova da falta de amor ao Recife. Essa iniciativa, que vem descaracterizando, “padronizando”  e despersonalizando os locais mais bonitos da cidade começou na gestão anterior do então Prefeito Geraldo Júlio (PSB). E, infelizmente, prossegue na atual. A população, no entanto, está assistindo – inerte – à mesma indiferença com a cidade. Eu, hein…

As luminárias anteriores eram muito mais decorativas do que as atuais. Pode-se dizer que o cais perdeu boa parte da beleza. Tem mais: enquanto gasta-se para substituir as luminárias tradicionais pelos monstrengos, o gradeado do guarda-peito sofre com ferrugem, corrosão e há pedaços que até já desapareceram. Roubaram ou caiu de podre no mangue. Há cidades cujos gestores se esforçam para humaniza-las, urbanizá-las tornando-as mais agradáveis e atraentes. Mas no Recife… infelizmente é o contrário. No bairro do Recife, por exemplo, temos um boulevard que é indigno desse nome. No de São José, o mercado público mais antigo do Brasil está caindo aos pedaços. No de Santo Antônio, a Avenida Guararapes e ruas próximas estão tomadas de ambulantes, o canteiro central virou um terminal de BRT e as calçadas cobertas dos seus edifícios mal dão espaço para os pedestres.

Pior, tombado, lindo e abandonado, está o Pátio de São Pedro. Seu conjunto arquitetônico está para o Recife como o do Pelourinho, na Bahia. Agora… vai ver a diferença. Infelizmente no Recife é assim, pois não se dá valor ao que a cidade oferece. Ou melhor, poderia oferecer. A recente derrubada de um bocado de árvores no futuro Parque das Graças é um exemplo. Será que não tinha jeito de se construir o parque sem sacrifício do verde? Deu no que deu: muita revolta nas redes sociais. Na gestão passada, o então gestor do Recife anunciou uma ciclovia ao lado do Canal do Arruda. Mas a solução era a mais absurda: derrubar árvores seculares para concretizar a promessa. E até os ciclistas foram contra. Ambientalistas colocaram um laço vermelho de alerta em cada árvore marcada para morrer.   O que só não ocorreu nas Graças porque à derrubada foi na surdina. Quando se viu, o estrago estava ao chão.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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