– Todo nordestino come lagartixa, não é?
É o que muito se escuta por este vasto Brasil afora.
Além de a região não ser a imagem estereotipada criada por pessoas de outros lugares do Brasil, não existe somente um Nordeste. Mas sim, quatro: o das capitais, o dos agrestes, o do semiárido e o coberto por uma zona de transição entre a floresta amazônica e esta própria (o Estado do Maranhão). Cada lugar contém uma essência única que diversifica as experiências nordestinas e as unem na mesma medida.
Muita dessa variedade está presente na literatura. Luz Gonzaga, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos falam sobre a seca no semiárido e a partida dos nordestinos para outras regiões em busca de uma vida melhor. Já José Lins do Rego e Jorge Amado, respectivamente, enfatizam as belezas e os vastos problemas da região canavieira no Brejo Paraibano e nas zonas cacaueiras da Bahia. Eles conseguem, muito bem, mostrar as diferenças da região em um período histórico e social específicos.
Não somente os escritores acima elencados, mais muitos outros contribuíram para que o Nordeste Brasileiro se tornasse um local melhor para se viver, pois eles deram grandes gritos que ainda ressoam pelo país. Rachel de Queiroz, por exemplo, com a humildade e genialidade que sempre lhe foram peculiares, falou que a vinda da energia elétrica foi um fator de muito progresso para a região. Ela ainda não sabia, mas a tecnologia que transformou o interior nordestino seria uma de suas grandes potencialidades décadas a posteriori.
Isso porque a região é hoje um dos grandes geradores de empregos e tributos do Brasil por causa daquilo que um dia foi considerado seu grande problema: o sol. Os parques de espelhos solares, as usinas produtoras de energia eólica e as fábricas de confecções transformaram muitas cidades nordestinas, que agora se tornaram fortes polos econômicos e provedores da geração de energia no país. Talvez fosse bem mais efetiva se, ao invés de ter sido criada na cidade de Manaus, a Zona Franca tivesse sido implementada em todos os estados do nosso Semiárido Nordestino.
Do Nordeste, não há apenas a migração para São Paulo e outros centros. Não há apenas seca. Isso já está sendo há muitos anos mostrado pela literatura nacional, mas ainda precisa alcançar mais pessoas, porque aqui sempre houve muito mais que isso. Há cultura e potencialidades econômicas. Há gente.
*Raimundo Sales é escritor de romances e contos, associado à União Brasileira de Escritores e autor de “Manairama”, que narra trajetórias de personagens de uma cidade amaldiçoada no Sertão Potiguar
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Edição: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação
Perfeito, Letícia, temos vários nordestes, cada um com suas peculiaridades. Você proferiu e especificou bem os baluartes da literatura nordestina. Em meio a tantos, impossível lembrar todos. Peço licença para mencionar Gilberto Freyre que com propriedade e maestria, escreveu Casa Grande&Senzala, onde descreve a vida nos engenhos de açúcar de Pernambuco. Obra de grande relevância hoje jogada no lixo por alguns “intelectuais” que acusam o escritor de negar maus tratos aos negros nos engenhos de Açúcar. A parte os maus tratos, havia sim, em muitos engenhos relação amistosa e muitas vezes afetuosa entre negros e senhores de engenho como relata o escritor, fato comprovado, inclusive, com depoimentos de pessoas da época. A obra de Freyre não pode continuar sendo jogada no lixo pelos que se aproveitam deste detalhe para promoção pessoal.
Excelente texto do Raimundo Sales.
O nordeste precisa ser visto sob outro olhar,com perspectivas diferentes de suas potencialidades sócio – econômicas imensas.
Chega do nordeste ser conhecido de forma depreciativa e caricatural.
Perfeita a colocação do escritor e romancista, Raimundo Sales. Existe vários nordestes dentro do nordeste, ele diz 4, se apertar mais um pouco, tem mais.