Arruda: O ipê do jogo de empurra

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Em questão de preservação do verde e de cumprimento da lei sobre o assunto, a gente vê cada barbaridade no Recife… Por exemplo, no bairro da Madalena há um lojão que eliminou todas as árvores do quarteirão, para abrir vaga no estacionamento da calçada para seus clientes. Fato inclusive noticiado aqui no #OxeRecife. Outro estabelecimento comercial, na Estrada do Arraial, em Casa Amarela, substituiu o gramado natural por um sintético. E nada acontece. No seu estacionamento só há concreto e cobertas de metal, embora a lei determine a presença de uma árvore para cada cinco vagas.

Nos imóveis residenciais, também se observa abusos em demasia. Não só em terrenos particulares, como até mesmo nas calçadas, onde árvores degoladas são, muitas vezes, vítimas da iniciativa privada ou de cidadãos comuns. Não fica fácil para o poder público fiscalizar, já que elas somam cerca de 250 mil em vias públicas. Mesmo assim, parece haver uma certa tolerância e até mesmo conivência com o arboricídio. Claro, eliminar uma árvore é sempre doloroso  para aqueles que amam a natureza. Porque todos sabem que cada vítima da motosserra insana fará falta no #Recifedaemergênciaclimática.  Mas há aqueles que o fazem sem dó sem que sofram punição.  Às vezes, o corte acontece mesmo que seja evitável, pois o que a gente mais vê é degola de árvore em calçada onde há construção de edifícios. Há, também, quem precise fazer o corte de forma correta, com a devida compensação e não consiga.

Morador do Arruda previsa remover ipê da calçada, tenta fazer compensação e nada consegue.

Há sim, formas de compensação, se a erradicação for realmente necessária. O problema é a dificuldade para resolver uma situação dessa, quando o morador do Recife não é  uma construtora, incorporadora poderosa, uma grande empresa, mas sim um cidadão comum.  “Sempre vejo sua dedicação em tratar sobre o assunto árvores no Recife. Por isso gostaria de saber se você teria alguma informação para me ajudar com o corte responsável de uma árvore, um ipê roxo de pequeno porte, em frente à minha residência”, afirma o programador Bruno de Carvalho, às voltas com um problema doméstico e público ao mesmo temo, para resolver.

“A árvore foi plantada por nós, porém com o desmembramento do terreno em duas partes, o ipê fica em frente ao acesso, impossibilitando a passagem do carro”, afirma Bruno de Carvalho, em mensagem ao #OxeRecife.  Informa que, com o ipezinho, não tem como usar a própria garagem nem facilitar a vida do pai, que tem dificuldade de locomoção.  Além do mais, carro guardado na rua sabem como é, atrapalha o trânsito e corre o risco de ser roubado. O meu, mesmo, levaram uma vez da frente de minha casa. Então, ter o automóvel guardado na garagem é mais seguro.  Bruno lamenta: “Já tentei a Emlurb e a Secretaria do Meio Ambiente e de Sustentabilidade do Recife, porém sem sucesso”.  A calçada em questão pertence a um imóvel ocupado há 60 anos pela  sua família,, período ao longo do qual foram plantadas fruteiras (jambeiros e mangueiras, no quintal)  e dois ipês, na calçada (na Rua José Austregésilo, Arruda). Um deles infelizmente precisa ser removido,conforme explica Burno.

“Agora estou tentando contato com uma empresa, pois nosso objetivo é realizar o corte de forma responsável, com o descarte correto, fazer a devida compensação, porém tudo que os órgãos do município dizem é que não pode cortar e pronto”, lamenta. Sem conseguir enfrentar a burocracia, ele foi aconselhado a procurar  “empresa especializada” para desatar o nó junto às repartições do Recife. A empresa cobrou R$ 4.500 para obter o licenciamento para o corte junto à Prefeitura, fazer a remoção do entulho e a compensação com plantio e monitoramento. “O que eles cobram é o preço de uma multa se eu fizesse a coisa errada”, diz o programador, desalentado. 

Ele tem razão. Por que pagar por um serviço que os órgãos públicos têm obrigação de disponibilizar gratuitamente? O #OxeRecife procurou tanto a Emlurb quanto a SMAS, para entender o que se fazer em casos como o de Bruno. Nada resolvido. Ele inclusive já apelou para a Ouvidoria Geral do Município (processo 203230346). Ficou tudo na mesma. “A árvore não está doente e não pode ser removida”, segundo o informaram, mesmo que ele tenha se disponibilizado a fazer a remoção consciente e a devida compensação. O #OxeRecife tentou se esclarecer o assunto junto à SMAS e à Emlurb, mas a redatora aqui ficou tão confusa quanto o leitor. Ao que parece, há conflito de informações ou de atribuições. Porque o que houve, foi só jogo de  empurra. “Árvore em área pública é de responsabilidade da Emlurb”, diz a assessoria de imprensa da SMAS. “No caso dele, é melhor procurara SMAS”, informa a assessoria de imprensa da Emlurb.

Perguntar não ofende, não é? Por que uma empresa que cobra R$ 4.500 do cidadão pode resolver o problema junto aos órgãos públicos do Recife para desatar um nó, enquanto o próprio cidadão, sozinho, e sem gastar essa fortuna não consegue resolver? Afinal, o assunto não é assim tão complicado, não é mesmo? A árvore é de médio porte. Não é ainda tão grande.  E Bruno tentou fazer a coisa certa, com licença, compensação ambiental. Ou seja, uma atitude bem diferente daquelas que a gente vê acontecendo impunemente nos quatro cantos da cidade. Se fosse outro, simplesmente apelava para a motosserra, talvez sem multa e, com certeza, sem a devida compensação.  Realmente, não dá para entender…

Mas que dá pena matar uma árvore, ah…. isso dá. E ele sabe disso.  E sabe também, quanto dói o remorso de ter que eliminar uma. Mas não quer deixar por isso mesmo. Tanto que foi atrás das repartições competentes, para se informar sobre o procedimento e a compensação consequente. e  Abaixo, você confere outras perdas polêmicas,  de maior gravidade, ocorridas no patrimônio verde do Recife

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Do leitor

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2 comments

  1. Minha querida Letícia: se as normas públicas ficassem sujeitas às questões de preferencia particular estaríamos perdidos. Tenho uma rixa antiga com a EMLURB, referente aos preconceitos que sustenta em verdadeira agressão ao interesse público, tais como a insuperavel recusa de plantar árvores FRUTÍFERAS que, além de beleza, sombreamento e oxigenização, produziriam alimentos para uma população faminta, a custo zero. No caso em discussão, o belo ipê já é uma árvore adulta, o proprietário resolve reformar sua casa e, ao invés de adaptar sua reforma física à manutenção do natural belo ipê, insiste em confrontar a natureza derrubando o que não sabe construir. Tudo, menos o interesse público de preservação da natureza para satisfação de visões estreitas de natureza pessoal. Concordo que estou ficando um velho insuportável com suas manias.

    1. Bom dia, Ivan. Você é uma pessoa querida e da qual eu sinto muita saudade. Espero que esteja bem de saúde. Também defendo as árvores e vejo o quanto é importante a existência de frutíferas em áreas públicas para amenizar a fome da população. No caso em questão, do Arruda, o espaço é muito estreito e o pai do rapaz tem problema de mobilidade. Eles tentaram várias formas de adequar o projeto à sobrevivência da árvore, mas não houve jeito. Ele quer compensar no caso de erradicação, cuidado que nem todo mundo tem.

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