Tem uma coisa que eu não entendo. A gente vê montanhas de tocos jogados em calçadas, nas ruas do Recife. Além, claro, daqueles que permanecem fixos nos canteiros. Na manhã do último domingo, um caminhão da Emlurb esteve na Rua da Aliança, para erradicar um pedaço de tronco de um metro de altura. Ele foi deixando fincado no solo desde o mês de maio de 2017, quando a árvore sofreu uma guilhotinada.
Claro que é muito melhor erradicar o toco para plantar outra árvore no lugar, do que deixar o Recife parecendo um cemitério de cadáveres insepultos em parques, calçadas e jardins. Os funcionários disseram-me que não deixariam nem sombra da árvore na via. “Essa máquina tira tudo, depois mói, não fica nada”, disse-me o homem que trabalhava na operação. Não foi exatamente o que aconteceu.

A artéria vem sofrendo os efeitos da falta de arborização. Ao longo de 15 anos, esta é a segunda árvore totalmente erradicada daquela rua, que inclusive não tem calçamento, o que facilita o crescimento de acácias e palmeira ali plantadas. Pois bem, concluído o serviço, uma montanha de pó de serra seguiu no caminhão que trouxe máquinas e operários.
Outra montanha, com uns cinco metros de extensão, ficou no chão. E, pasmem, um pedaço de tronco, também. Está lá, jogado. Fiquei me perguntando qual é o objetivo de se deixar pedaços de árvores nas ruas. Porque não há como uma cena dessa não chocar as pessoas que, como nós, amam as árvores e a natureza. São cenas do arboricídio, que terminam provas vivas da tragédia que choca o Recife. Meu voto, agora, é que alguém recolha o tronco que ficou jogado na calçada e que o transforme, pelo menos, em um tamborete.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife