Quando eu era criança, havia um, preso não sei em que casa da vizinhança. O barulho era tão grande, que chegava a incomodar. No princípio, pensava que era um serviço, alguém batendo com o martelo ou picareta em obra de construção. Mas era o grito do araponga, pássaro também conhecido por ferreiro, cujo canto – tão marcante – jamais esqueci. Moro em área com bastante arborização, mas nunca distingui o seu canto por aqui por perto, onde é grande a quantidade de espécies como canário da terra, sabiá, bem-te-vi. Até jandaias são observadas. Não sei, portanto, por onde andam os arapongas, mas parece que não são mesmo tão comuns no Nordeste.
É que a espécie habita florestas preservadas, sobretudo regiões de matas litorâneas e serranas do Bioma Mata Atlântica. Porém é mais comum no Sudeste. “Tem um canto estridente, semelhante ao de um ferreiro batendo o martelo numa bigorna”, confirma a Agência Estadual do Meio Ambiente, que acaba de receber uma araponga-comum (Procnias nudicollins), através de entrega voluntária. O animal foi levado pelo construtor Paulo Guedes Hacker. Ele não teve dúvidas sobre o melhor caminho para a sobrevivência do pássaro, ao saber da presença da ave no sítio que comprou, em área próxima à BR-232, no limite entre os municípios de Recife e Jaboatão dos Guararapes. .
A araponga-comum (também conhecida como uiraponga), pertence à família Cotingidae, e é considerada vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). A ave deve ser repatriada para o Sudeste. Biólogos do setor de Fauna da Cprh destacaram que raramente uma araponga aparece no órgão, ainda mais vindo de entrega voluntária. As poucas que passaram pela Cprh foram apreendidas em ações de combate ao tráfico de animais silvestres. Pelas informações, a que foi entregue nesta semana vivia há pelo menos três anos no cativeiro e chegou a ser solta algumas vezes, mas sempre retornava. Além da araponga, o construtor entregou também um papagaio verdadeiro. O bichinho também estava no sítio que ele comprou. Os dois já estão no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas Tangará), da Cprh, de onde serão levados de volta à natureza. De onde, aliás, jamais deveriam ter saído.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação / Cprh