Acordei por volta de 2h da manhã do sábado com uma dor infernal no joelho. Tão infernal, que não conseguia andar direito. Levantei, coloquei uma bolsa de gelo e esperei melhorar. A dor era forte demais. Fiquei em dúvida: e agora, como vou fazer a trilha que tinha marcado para a manhã do dia 23, na área rural de São Benedito do Sul, com direito a banho de cachoeira? Como conseguiria andar com tamanha dor, subir e descer ladeiras e quase que escalar algumas pedras para ter acesso à água que escoa do alto? Pensei em desistir. Mas ao abrir o WhastApp do grupo Andarapé, descobri que havia duas motos à disposição dos caminhantes, para transportar quem não aguentasse todo o percurso de seis quilômetros. Então, fui. Com dor e tudo. Moral da história: teve gente que precisou de moto. Mas eu… não. Consegui completar o percurso sem reclamar. E sem desconforto. Vá entender o corpo humano. Já entendi que o melhor, mesmo, é não ficar parada.
É verdade que meu amigo Xande Xis (que anda com uma farmácia a bordo) me deu um pouco de gel de cânfora para massagear o local dolorido. Também viajei com os pés apoiados em uma caixa de gelo, com altura dois palmos acima do chão. Pois não me arrependi. O passeio foi uma delícia. E valeu a pena, mesmo com o fato do volume das cachoeiras estar reduzido a 35 por cento, devido à estiagem. A demanda foi tão grande, que além do ônibus previsto, houve necessidade de um micro-ônibus, para o transporte dos andarilhos. Saímos quase no horário previsto, 5h10 da manhã. Apenas dez minutos além do que havia sio marcado. Viagem tranquila cortando os canaviais da Zona da Mata, região em que São Benedito fica, mas com mistura de paisagem com a vegetação do Agreste. O município – a 179 quilômetros da capital – está 360 metros acima do nível do mar, o que faz dele o quarto menos quente de Pernambuco. Só perde para Garanhuns, Triunfo e Gravatá. No caso de São Benedito, as imensas manchas verdes da área rural ajudam na manutenção do clima. Como nos três outros, no entanto, durante o dia o sol é de “lascar”, como costuma dizer o homem do campo. Foi preciso chapéu, filtro solar, muita água e café da manhã reforçado com frutas, para dar conta das longas e íngremes caminhadas, sob o sol escaldante.
O passeio – ao custo de R$ 175 por pessoa com todas as despesas incluídas (água, café da manhã e almoço, tudo do bom e do melhor – valeu a pena. Principalmente para quem vivencia o dia-a-dia do nosso querido Recife, cada vez mais caótico, com seus engarrafamentos, poluição sonora e as mazelas da cidade grande. Então, termina sendo uma maravilha, passar o dia sentindo o ar puro, caminhando entre árvores como visgueiros, imbaúbas, sabiás, jaqueiras, pitombeiras, cajueiros, oitizeiros, cajazeiras, goiabeiras. Vi até vários pés de araçá, fruta prima da goiaba, que praticamente sumiu da Região Metropolitana. Fomos recepcionados com um gostoso café da manhã, quase ao lado da Cachoeira Aritana, a primeira que visitamos. Passamos todo o dia trilhando, descendo e subindo, com quatro cachoeiras no roteiro. De acordo com a Empetur, são cerca de 20 locais para banho sendo dez as cachoeiras mais famosas, mas elas não ficam próximas entre si. As quedas variam de três a 25 metros. E pensem em um barulhinho bom, que faz a água caindo.
Foi realmente uma delícia, passar o dia andando por caminhos de arborização natural, vendo a vida simples e vagarosa do povo do interior, com seus roçados, suas criações de mel de abelha, seus cabritos e bois passeando tranquilamente. Os guias foram muito eficientes, com destaque para José Cláudio Vieira, que está assumindo a Direção de Turismo da Prefeitura, depois de – como quase todo nordestino do interior – ter migrado para o Recife e São Paulo. Agora, de volta a Pernambuco e à sua cidade natal, Cláudio está cheio de planos para desenvolver o turismo no município, com enfoque na questão ambiental. A tarde terminou com um almoço regional no Casarão, uma casa de recepções organizada e aconchegante, com área bucólica e até redes sob as árvores. O município foi criado em 1963, mas de acordo com Stenberg Lima – uma espécie de “historiador” das nossas caminhadas – São Benedito do Sul teria sido inicialmente povoado por rebeldes ligados ao Quilombo dos Palmares, no século 17. No século seguinte, engenhos e fazendas começaram a se instalar.
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Serviço:
Caso você queira participar dos próximos passeios, entre para a “família” Andarapé, cujo número do WhatsApp é 999898996 ou 992137554. Todos os passeios são comunicados no grupo pela rede social.
Texto, fotos e vídeo: Letícia Lins / #OxeRecife