Uso de agrotóxicos provoca intoxicações e suicídios em Pernambuco

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Apesar dos esforços do Governo de Pernambuco para incentivar a agricultura orgânica – sem utilização de defensivos agrícolas – a situação do Estado não é cômoda nesse setor. Entre 2007 e 2019, nada menos de 10.980 pessoas sofreram intoxicações devido ao uso de algum tipo de agrotóxico. A faixa etária mais atingida é aquela entre 20 e 29 anos. E, pasmem, entre os eventos observados na população intoxicada, chama atenção o mais frequente: a tentativa de suicídio.

Eles correspondem a 59 por cento de todos os casos notificados. “É preciso restringir o acesso a esses venenos e alertar a rede de saúde mental para o acompanhamento desses casos”, afirma extenso documento elaborado pela Secretaria Estadual de Saúde, ao qual o #OxeRecife teve acesso e que agora está disponível na Internet. “Existem agrotóxicos que promovem alterações no sistema nervoso central e podem levar a casos de depressão e suicídio entre os agricultores”, adverte a publicação Vigilância em Saúde das Populações Expostas a Agrotóxicos em Pernambuco, produzida pela Secretaria Executiva em Vigilância em Saúde, da SES.

Diagnósticos como esse são muito importantes, para que os estados possam traçar suas políticas de restrições a esses produtos que tanto mal fazem à saúde das pessoas, dos animais, às plantas, aos rios, ao equilíbrio da natureza enfim. No Brasil, o famigerado Ministro Ricardo Salles (aquele da “boiada”) e o Presidente Jair Bolsonaro não estão nem aí para alguma política restritiva ao uso desses venenos. O que ocorre é o contrário: o liberou geral. Segundo várias instituições, o governo liberou 467 agrotóxicos em 2019, número que aumentou para 493 em 2020. Ou seja, há 960 novos produtos tóxicos com comercialização liberada no Brasil. Se os estados não tomam providência, o descalabro ambiental só vai aumentar.  Em Pernambuco, por exemplo acaba de ser sancionada Lei que cria sua Política Estadual de Agroecologia e Produtos Orgânicos (porém muita coisa ainda precisa ser regulamentada). Esperamos que o novo Secretário de Agricultura e Reforma Agrária, Claudiano Martins Filho, trabalhe para que ela não vire letra morta.

É preciso consumir alimentos isentos de agrotóxicos, porque há muitos defensivos pesados sendo usado no Brasil.

E, anotem esses números. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a própria Organização de Saúde, para cada caso de intoxicação exógena, há – pelo menos – 50 outros não notificados. Pensem em um drama. No estado, as dez cidades que lideram o número de intoxicações são Recife, Petrolina, Caruaru, Jaboatão, Ouricuri, Salgueiro, Garanhuns, Vitória de Santo Antão, Olinda e Serra Talhada. O uso inconsequente de agrotóxicos pode ser atestado, também, nos alimentos consumidos. A publicação relata percentuais de resíduos tóxicos encontrados em produtos agrícolas e relata “mostras insatisfatórias” no caso do pimentão (65,57 por cento), repolho (41,32 por cento), couve-flor (36,36 por cento), uva (31,01 por cento), goiaba (28,57 por cento), alface (28,08 por cento) e morango (28,07 por cento). No pimentão, o produto mais contaminado, foi encontrada a presença de Imidociaoprid em 36 por cento do total analisado.

O Imidociaoprid, para os que não sabem, é um agrotóxico já proibido em vários países, inclusive por ter o seu uso “associado ao desaparecimento de abelhas”. Dos alfaces, pelo menos 78 por cento das mostras consideradas insatisfatórias (por excesso de veneno) eram de Vitória de Santo Antão, onde há grande produção de hortaliças, com uso de agricultura tradicional. Há outros dados preocupantes apontados no trabalho não só no estado, como também n Brasil, embora esses últimos números não sejam tão atualizados. Entre 2005 e 2017, o Brasil aumentou em 22 por cento sua área plantada e em 161 por cento a quantidade de agrotóxicos comercializados. No mesmo período, Pernambuco teve área plantada reduzida em 30 por cento, mas o consumo de veneno subiu 43 por cento.

Pior, o mais consumido no estado – o 2,4 D – é “extremamente tóxico”, conforme a publicação, cuja produção ficou sob responsabilidade de equipe técnica formada por Giselle Azevedo da Rocha, Pedro Costa Cavalcanti Albuquerque, Rebeca Beltrão Valença e Izete Maria de Lima.  Pelo que eles relatam, todo mundo tem mesmo que ficar de olho é no que vai comer, procurando comprar alimentos isentos de veneno, em feiras agroecológicas. O #OxeRecife publicará para vocês, às 18h, a relação de feirinhas de produtos orgânicos da cidade. E, nos links abaixo, você pode ler várias outras postagens a respeito  da política genocida no nosso Brasil, cada vez mais envenenado.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos:  (Internet) e Divulgação/ SEI

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