Afinal, quem mandou a Polícia Militar atirar balas de borracha?

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Das duas, uma. Ou as autoridades estaduais estão faltando com a verdade, ou a Polícia Militar de Pernambuco agiu por conta própria, desgovernada, claramente sem um comando sensato, durante os atos de violência praticados no último sábado, contra manifestantes que participavam de um protesto contra o governo Jair Bolsonaro. Desastrada, a operação da PM acabou  com perdas irreparáveis para dois homens que foram atingidos nos olhos com balas de borracha,  e que sofreram lesões irreversíveis.  Detalhe: Eles nem sequer participavam da manifestação.

Jonas Correia França (29) e Daniel Campelo da Silva (51) não estavam armados e não representavam risco algum para a população, para que fossem tratados daquela forma, como se estivessem lutando contra o inimigo em uma guerra.  Segundo disse hoje o Secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, a ordem para a ação desastrada, não saiu dele nem do Governador Paulo Câmara (PSB). “Não partiu de mim nem de ninguém que estava no comando, o uso da força e do choque”, disse, em entrevistas concedidas no dia de hoje, a emissoras de TV e de rádio. “A hipótese é que a ordem teria partido do campo”, afirmou Pádua, ao referir-se à provável origem do ataque. Ou seja, a própria PM, através do comando local da operação.

“A polícia tem protocolos de atuação, tem certa autonomia de decisão, mas tem que se basear na legalidade e na proporcionalidade”, disse. E reconheceu: “Houve uma ação desproporcional”.  Ou seja, legalidade e proporcionalidade zero. Ele justificou que estava em uma entrevista à TV Globo no momento do desastre, e que logo que soube da confusão, deu ordem imediata para “parar a ação”. Na quarta, Antônio de Pádua compareceu à Assembleia Legislativa para expor sua versão dos fatos, mas a imprensa não teve acesso ao encontro com os deputados.

Pacífica, manifestação contra o governo do Presidente Jair Bolsonaro  acabou em violência praticada pela PM.

O titular da SDS silenciava sobre o fato, inclusive sobre a violência praticada contra a vereadora Liana Cirne (PT), que foi agredida no rosto com spray de pimenta, caiu no chão, e foi acusada de fazer “uma palhaçada” em vídeo divulgado em redes sociais por um coronel da PM. O dia que Pádua escolheu para falar – essa quinta-feira – é o mesmo em que organizações sociais enviaram um documento à ONU e à OEA denunciando a arbitrariedade da PM, durante a manifestação. Os dois órgãos têm dois meses para se manifestar. Até lá, é preciso não deixar a poeira baixar, para evitar que cenas como essas voltem a acontecer no nosso estado, de tradições tão democráticas.

Além da violência praticada pelo Batalhão de Choque, houve outras cenas divulgadas em vídeos feitos pelos próprios manifestantes, que mostram outra ação desumana. Um carro da Rádio Patrulha chega, no momento em que um dos homens feridos clama por socorro. Porém ao invés de tomar alguma providência para ajudar Daniel Campelo da Silva, a RP  faz pouco caso do fato, deixando indignada  Isabela Freitas, representante da OAB que ajudava a vítima, totalmente desnorteada pelo sangue que lhe embotava a visão.

Ou seja, cenas de barbárie, as que ocorreram no Recife. E o que é pior, praticadas por quem deveria estar ali para proteger os manifestantes e não agredi-los. Até porque a manifestação foi totalmente pacífica e transcorria até ali, sem que houvesse um só incidente. Pádua informou que há seis inquéritos instaurados na Corregedoria da SDS, um na polícia civil,  um inquérito policial militar na própria PM. Assegurou que oito policiais envolvidos no descalabro já foram afastados de suas funções, e que a SDS está fazendo um  “estudo de caso”, para avaliar protocolos da PM. Além disso, o Ministério Público de Pernambuco também instaurou procedimento para responsabilizar os culpados.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Redes sociais

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