Acidente lembra o do Córrego do Boleiro

Triste, mas muito triste mesmo, essa terça-feira, véspera de Natal, para a comunidade dos altos de Dois Unidos, Zona Norte do Recife, onde uma barreira deslizou, deixando sete mortos, três feridos e duas pessoas desaparecidas, que estão sendo procuradas pelo Corpo de Bombeiros. As duas últimas vítimas fatais tiveram os corpos resgatados no final da manhã de hoje.

O acidente foi na localidade conhecida como Córrego do Morcego. A população local atribui a queda da barreira a um cano da Compesa, que estourou por volta de duas horas da madrugada, até porque não houve nenhuma chuva torrencial que justificasse o desastre. O Palácio do Campo das Princesas divulgou nota oficial, informando que mobilizou quatro secretarias para ajudar aos familiares das vítimas, e que a Compesa está com 50 técnicos no local, analisando as causas do rompimento.

“A Compesa realiza monitoramento permanente do abastecimento na área, inclusive com contatos diretos com as lideranças comunitárias”, diz a nota do Governo. “Nas duas últimas semanas não houve registro de vazamento no local”, acrescenta.  O acidente me lembrou um outro que aconteceu em 1996, no Córrego do Boleiro, no qual doze pessoas morreram, também, devido ao estouro de uma tubulação de abastecimento.

Após o acidente, as famílias do Córrego do Boleiro receberam das autoridades a promessa de que teriam casas novas e seguras, mas até hoje o benefício não chegou para a maioria delas. Boa parte dos homens e mulheres que moravam no alto acidentado em 1996, reside hoje em uma localidade chamada Singapura, perto da BR 101 Norte. E as condições são bem precárias. É que embora a área pareça mais segura que a anterior, as habitações são rústicas pois há palafitas à margem de um canal, a comunidade não dispõe de saneamento e a maior parte vive de biscates e subemprego.

Para ter algum tipo de renda, as mulheres normalmente vendem comidas nas ruas, como tapioca (foto), acarajé e batata frita. Já estive nessa comunidade várias vezes, e os moradores resistem à desesperança, principalmente as donas de casa. Houve quem montasse pequenos negócios, como restaurantes populares, bares e até fábrica de maiôs.  O #OxeRecife torce para que os sobreviventes da tragédia não tenham o mesmo destino do Boleiro, e que recebam a devida assistência. A Prefeitura informou que várias equipes estão no local, junto com Corpo de Bombeiros, Compesa e Samu. O #OxeRecife lamenta a tragédia, e declara solidariedade aos familiares das vítimas.

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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife

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