No último domingo de fevereiro, 25, fiz uma caminhada do Recife até Aldeia, saindo de Apipucos. Era mais uma programada pelo Grupo MeninXs na Rua, um dos muitos que se dedicam ao saudável hábito de percorrer nossa cidade a pé. Boa parte saiu do Rosarinho, mas eu me integrei em Apipucos. Triste afirmar que do meu bairro até Dois Irmãos e de lá até Sítio dos Pintos, as calçadas são precárias. Salva-se apenas um trecho da Universidade Federal Rural de Pernambuco, que as teve requalificadas.
O resto todo é formado pela presença de rachaduras, buracos, depressões, galerias pluviais e esgotos sem tampa, e por aí vai. Lembro isso porque na manhã da última quarta-feira, enquanto eu caminhava, vi um rapaz bem jovem – vistoso, inclusive – sendo amparado por três homens, na Avenida Dezessete de Agosto, em Casa Forte, Zona Norte do Recife. A princípio, julguei tratar-se de um acidente de moto. Mas como não vi a moto, pensei que o homem estivesse se sentido mal. Como estava já com três pessoas ao seu lado, passei direto, sem saber o que acontecera. Só vi que ele estava sem conseguir andar, porque tinha muita dor.
Ao retornar, descubro que a lesão foi tão séria, que o pedestre teve que aguardar uma viatura do Samu, para ser levado a um hospital. Foi quase defronte da Lavandaria 5àSec. E você sabe porque ele não conseguia andar? Sofreu um sério acidente provocado por uma calçada assassina, enquanto se deslocava para o trabalho. Como ele, são muitos. Eu, inclusive, que já imobilizei meu pé várias vezes por conta de tombo nas calçadas. Na última delas, torci o tornozelo e quebrei a fíbula. Foi em janeiro de 2017, o que me privou então de minhas caminhadas, de dirigir, de frequentar a praia. E ainda tive longas sessões de fisioterapia. Depois daquele tombo… Até hoje, meu tornozelo dói um pouco quando ando muito. Mas sou teimosa, e vou assim mesmo. Pior é ficar parada.
Tenho uma amiga que passou péssimos momentos por conta de um tombo provocado em uma calçada de pedras portuguesas. Uma delas estava solta, enganchou na tira da sandália, e ela torceu o joelho. Ficou sem andar por mais de um mês e precisou até de cuidadora, jogando no seu orçamento doméstico despesa que não estava prevista. Como eu, ela anda muito, mas está evitando longas caminhadas, por achar que pode magoar a articulação danificada pela calçada mal cuidada. Como se não bastasse o sol causticante provocando pela derrubada das árvores – prejudicando pedestres e ciclistas – as calçadas viraram um risco para quem pretende fugir do caos do trânsito, andando a pé pelo Recife.
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Texto e Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Cortesia do Leitor