Aborto em menina de dez anos no Cisam gera “guerra” em Pernambuco

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Felizmente, passa bem a menina de dez anos, que foi submetida a um aborto no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam). Ela era violentada dentro de casa por um tio, em São Mateus, a 215 quilômetros de Vitória (capital do Espírito Santo).  O Tribunal de Justiça daquele estado reconheceu o direito à interrupção da gravidez, porque a lei brasileira permite a extração do feto, quando a mulher é vitima de violência sexual. No caso dela, a situação é ainda mais grave, porque a gestante é uma criança. Além do risco de vida, a menina vinha sofrendo problemas psicológicos, com constantes crises de choro, porque não aceitava a gestação e muito menos sendo filho do seu algoz. Segundo os familiares, ela tinha crises nervosas, diante da situação. A criança reside com os avós, e era abusada desde os seis por um tio de 33, que ameaçava maltratar seus parentes, caso ela contasse o drama a alguém. Ele está foragido.

Apesar do TJ do Espírito Santo ter autorizado a prática do aborto, não houve hospital naquele estado que se dispusesse a tomar a iniciativa. A criança gestante viajou, então, para o Recife, a fim de submeter-se ao procedimento na Cisam, onde já existe protocolo sobre a  prática. Foi na Cisam que em  2009, uma menina de nove anos do interior de Pernambuco foi submetida a aborto. Ela estava grávida de gêmeos, depois de ser violentada desde os seis pelo padrasto. Como agora, a polêmica foi grande. A menina, que vivia em Alagoinha – a 220 quilômetros do Recife – chegou a ser internada no Imip, mas por pressão da Igreja Católica, o hospital não realizou o aborto.  Ela foi então transferida para a Cisam, onde foi submetida ao procedimento.

O então Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, chegou a anunciar a excomunhão de toda a equipe médica  da Cisam, que cumpriu a decisão judicial, pois além de violentada, a pernambucana corria risco de vida. Nesse fim de semana, a confusão foi grande, também, em frente à Cisam, com dois grupos quase partindo para o enfrentamento. Um deles, defendia a manutenção do feto, pelo “direito à vida”. O outro, formado de feministas, reforçava o direito ao aborto. A situação ficou tão tensa, que os mais exaltados tentaram impedir que o Diretor da Cisam, Olímpio Moraes Filho, entrasse na maternidade. Foi preciso a interferência da Polícia Militar, para acalmar os ânimos. “Estive lá para discutir a questão com a família e a equipe médica, mas um grupo abortista fez tanto barulho e até me atacou verbalmente”, comenta  a ex -deputada Terezinha Nunes (foto), que é contra aborto e não conseguiu gravar um vídeo sobre o assunto no local.

Hoje a Universidade de Pernambuco (UPE) – à qual pertence a Cisam – divulgou nota em defesa  da equipe responsável pelo aborto: “Questionamentos legais devem ser feitos ao poder judiciário e não a profissionais em cumprimento de seu dever”. Segundo Olímpio, a menina corria risco de vida, caso o feto não fosse retirado.  “Ela desenvolveu diabete gestacional, havia chance de hemorragia, pressão alta e da criança nascer prematura”. O  procedimento iniciado ontem  acabou às 11h da manhã dessa segunda-feira. Segundo Olímpio, a menina está bem e já em condições até ter alta. Conforme assistente social do Espírito Santo que a acompanha em viagem ao Recife, a criança está se sentindo “aliviada” após o aborto.

Olímpio disse que o caso da menina de Espírito Santo não é raro. Ao contrário, a Cisam recebe com frequência crianças com complicações em gestações decorrentes de abusos sexuais. “Sabemos inclusive que grande causa de suicídio entre adolescentes é a gravidez indesejada”. Ele reconheceu que, para o médico, não é fácil fazer um aborto, havendo os que se negam a participar do procedimento, mesmo quando é legal. “Mas também não se pode inviabilizar o direito à saúde”.  No caso atual, os manifestantes foram insuflados pela ativista bolsonarista Sara Winter. Ela não só conclamou a população a ir à porta da Cisam para impedir o aborto, como também cometeu um delito.

Pois revelou a identidade da criança vitimizada, o que é proibido pelo Estatuto da Criança e do  Adolescente. Uma grande falta de respeito a uma pessoa já em situação psicologicamente tão vulnerável. Logo, logo, estabeleceu-se uma campanha  entre os internautas para bloquear a ativista da mídia social. Na nota da Upe, a entidade repudia “fortemente atos políticos e religiosos que vão contra as determinações legais” e que “estimulam aglomerações e confusões frente a uma unidade hospitalar”. Histéricos, alguns manifestantes chegaram a gritar que a criança era “assassina”, o que gerou indignação entre a equipe médica encarregada de cuidar  da menina que havia sido tão barbaramente violentada.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Internet e redes sociais

 

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