Cuidado com a carne que você consome. No interior, não há como confiar. Pois a gente vê os bichos sendo mortos no meio de praças ou até mesmo em feiras. Cenas terríveis e repugnantes, que já observei – por exemplo – no meio de uma praça, no município de Águas Belas (Agreste), quando um boi e um bode foram mortos e retalhados para consumo da comunidade no meio de um povoado rural. Também já observei um porco sendo morto em Manari (no Sertão), em plena feira. Nos dois casos, passei o resto do dia passando mal, com cenas cruas que nunca tinha visto. Em locais mais remotos, até se entende que isso ainda ocorra. Mas em pleno século 21, é imperdoável que a matança de bovinos e suínos aconteça sem a mínima condição de higiene, em plena Região Metropolitana.
Cadê o Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura? Em Pernambuco, quem interditou o abatedouro clandestino foi a Agência Estadual do Meio Ambiente (Cprh). Nojento, o abatedouro clandestino funcionava em São Lourenço da Mata, a 22 quilômetros do Recife. Além de sacrificar os animais sem o mínimo de higiene, o matadouro ainda fazia despejo irregular dos dejetos em um riacho. Os fiscais chegaram ao abatedouro através de denúncia anônima. Eles encontraram diversas irregularidades ambientais: ausência de licença ambiental ou alvará de funcionamento, maus tratos de animais, além de despejo irregular de efluentes em um riacho que fica nas proximidades. Foi ainda constatada a total ausência de condições sanitárias durante o processo de abate, corte e armazenamento do produto de origem animal.
Na ação, foram apreendidos oito animais vivos (sendo seis bovinos, um equino e um suíno), uma caminhonete, uma carroça acoplada ao veículo, uma balança, três freezers, além de ferramentas utilizadas para sacrificar os animais, marretas e serras. De acordo com coordenadora da ação de fiscalização, Elba Borges, os infratores conseguiram fugir deixando no local alguns pertences. Ela explica que não foi possível quantificar o volume da carne abatida e de carcaças dos animais porque não houve condições de pesagem. Borges informou, também, que só foi possível fazer o reconhecimento do proprietário do abatedouro durante a ação porque a fiscalização foi desenvolvida em conjunto com policiais civis e militares da Delegacia do Meio Ambiente (Depoma) e da Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (Cipoma). “Sem a rápida e eficaz ação dos agentes da Secretaria de Defesa Social, não teríamos condições de concluir a ação impondo a penalidade de apreensão de materiais”, conclui, adiantando que ainda cabem embargo do local e multa.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Cprh / Divulgação