Ricardo José de Barros nasceu, criou-se e reside até hoje no Poço da Panela, na Zona Norte do Recife. O seu pai é uma das figuras mais conhecidas do bairro histórico, ao ponto de ter transformado seu local de trabalho – a Venda de Seu Vital – em ponto de referência. Um dia, precisei deixar uma encomenda na casa da escritora Luzilá Gonçalves, mas ela tinha saído. Ao me comunicar da rua com ela por telefone, me aconselhou para que eu não perdesse a viagem: “Deixe na venda de Seu Vital”.
Normalmente, as pessoas perguntam se essa ou aquela rua fica perto ou longe da Venda de Seu Vital que, em temos sem pandemia, sempre movimenta um forrozinho pé-de-serra, principalmente na época junina. A Venda de Seu Vital – um estabelecimento bem à moda antiga – virou, também, um ponto de encontro de pessoas de todas as idades, que ali costumam passar, aos finais da tarde, para jogar conversa fora ou tomar uma cervejinha.
Mas a vida de Ricardo é diferente. Ele ganha a vida como motorista de táxi, enfrentando o trânsito caótico do Recife, em uma agitação diária bem diferente da tranquilidade do bairro de sua infância. Hoje é dele o espaço para “A Voz do eleitor”. fala, portanto, sobre “O Recife que eu quero” e o que “eu espero do próximo gestor”.
Quem trabalha como motorista, como eu, sabe que o Recife tem o pior trânsito do Brasil e um dos piores do mundo. As vias estão estranguladas, parece que os planos de engenharia de tráfego não funcionam e do jeito que vai, a tendência é piorar. Então o Recife que eu quero é um Recife com mobilidade, onde as pessoas possam ir e vir sem transtorno, e isso só melhora com transporte público de qualidade. Nem falo de quantidade, mas de qualidade mesmo, para que as pessoas sejam estimuladas a usar ônibus, metrô, linhas alternativas. Mas também gostaria de um Recife com maior segurança, pois muita gente só sai de casa de carro com medo de assalto nas ruas e nos ônibus, o que contribui para os engarrafamentos. Uma boa mobilidade no Recife iria melhorar a vida de muita gente. Gostaria, também, que o Recife fosse uma cidade de praças bem cuidadas. Áreas verdes até que há – parques, praças, jardins – mas que precisam de maior zelo. Quanto ao próximo gestor, gostaria que não fosse um prefeito cara de pau, mas um prefeito que a gente visse retribuído o tanto de imposto que a gente paga com a oferta de serviços de qualidade. O que a gente vê, na atual gestão, é muita maquiagem por toda a cidade. Cara de pau não dá.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife
