Arquiteto, urbanista e consultor, Francisco Cunha (camisa vermelha, na foto) tem livros sobre o Recife e aproveita o isolamento social, para escrever um outro abordando os diversos estilos arquitetônicos da cidade. Faz parte de movimentos em defesa da cidadania a pé e é o idealizador e guia das chamadas Caminhadas Domingueiras Olhe pelo Recife. As incursões pela cidade, no entanto, foram suspensas desde o início da pandemia e não têm data ainda para a retomada.
A ele, o #OxeRecife encaminhou as mesmas questões que vêm sendo enviadas a outros eleitores da capital: “O Recife que eu quero” e “O que espero do próximo gestor“. Francisco preferiu não falar individualmente, mas abordar “a cidade que precisamos”. O #OxeRecife, no entanto, entende que é a partir da soma de aspirações dos indivíduos que se consegue chegar a uma construção coletiva. Vamos, portanto, continuar ouvindo as pessoas já que, em campanhas eleitorais, o que se vê são promessas e mais promessas. Se todas tivessem sido efetivadas, ao longo de tantas gestões, o Recife, com certeza, seria um paraíso. Sabemos que muitas das promessas feitas pelos políticos, jamais serão cumpridas. Mas não custa nada sonhar com uma cidade melhor para se viver.
Vejam o que o nosso guia das Caminhadas Domingueiras, Francisco Cunha, diz sobre o Recife de hoje e do futuro:
Em primeiro lugar, considerei que tenho dificuldade de falar sobre a cidade que eu quero. Porque entendo que devemos trabalhar a cidade que precisamos. Porque a cidade que eu quero ela tende a levar para a posição individual de cada um, querendo uma cidade específica para ele. E aí lembro a música de Chico Buarque (Os Saltimbancos), na qual ele fala em um determinado momento que o cão diz que a cidade ideal para o cachorro é aquela que tem um poste por metro quadrado. Se a gente for nessa linha, a tendência vai ser a dificuldade de negociação sobre qual a cidade que precisamos. E em relação a ela, nós já viemos trabalhando desde 2012, no Projeto Recife que precisamos. Que consta de cinco eixos ou prioridades. São eles:
1- Planejamento de longo prazo, pensando-se no futuro da cidade, para que possamos trabalhar na direção daquilo que é importante ter no futuro.
2- Controle urbano, no sentido de ter um espaço urbano de melhor qualidade, seja na cidade em que vivemos que é plana, seja na cidade inclinada, que são os morros. E um projeto importante nesse aspecto é o Projeto Mais Vida nos Morros, onde a tinta – principalmente – é usada para qualificar os espaços urbanos. Temos mais recentemente, na planície, a experiência também do urbanismo tátil, com pintura, o uso de tinta em locais como Rosarinho, Água Fria, Ilha do Leite, Afogados, Avenida Agamenon Magalhães, onde a tinta foi usada para melhorar a segurança e a qualidade do espaço público.
3- Mobilidade destravada, com ênfase para a mobilidade sustentável, que é aquela que se ancora no tripé: caminhabilidade, ciclomobilidade e transporte público. Em respeito à primeira, são necessárias calçadas de boa qualidade, maior sombreamento, melhor segurança, maior transparência do espaço público para o privado (para melhor segurança nas vias), melhor qualidade das travessias. Em respeito à ciclomobilidade, mais ciclovias e mais conectadas e mais seguras. Quanto a respeito à qualidade do transporte público, são necessárias faixas exclusivas, para aumentar a sua velocidade, o que não ocorre com o trânsito engarrafado, travado.
4- História preservada, em especial o centro da cidade. Com ênfase para a Ilha de Antônio Vaz, formada pelos bairros de Santo Antônio, São José, Cabanga e Ilha Joana Bezerra. É um acidente geográfico só e, na ponta dele, é que existe a cidade de 400 anos dos tempos de Maurício de Nassau, compondo hoje Santo Antônio e parte de São José. O centro precisa ser recuperado, restaurado, porque se isso não for feito, perdermos o centro da nossa cidade, da Região Metropolitana
5- O Rio Capibaribe precisa ser recuperado e transformado em parque em toda a extensão dele na cidade. Uma parque que seja capaz de transformar em parque suas laterais, que deverão se conectar com outras áreas verdes da cidade. E no conjunto, pode ser criado um parque na cidade, que tem possibilidade de transformar o Recife em cidade parque, quando esta completar seus 500 anos.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Caminhadas Domingueiras / Acervo #OxeRecife