“Vou escalar todo seu corpo, como quem escala uma montanha… “. No Recife não há ninguém que não conheça esses versos. Como A Raposa e as Uvas (de Reginaldo Rossi), Escalada (de Augusto César) virou um clássico da música brega. Ou da música romântica, para os que preferem assim chamar. No entanto, nem tudo que é romântico é brega. Mas tudo que é brega é romântico. Quase sempre.
Se Pernambuco teve um rei do brega (Reginaldo), pode-se dizer que Augusto César era o vice-rei. E não tinha lugar ruim para ele. Apresentava-se no Clube das Pás, cantava em gafieira, em clube de bairro e até mesmo sob a lona rasgada de circos do interior. Ou mesmo da Região Metropolitana. Como sou apaixonada por circo e gostava de algumas de suas músicas, mas sobretudo de Escalada, uma vez fui vê-lo cantar no picadeiro, em Itamaracá, nos meus tempos de veraneio na Ilha. E isso foi há muito tempo.
Depois, fiquei acompanhando seu trabalho, seu jeito simples de se comunicar com os fãs e sua labuta diária em busca do ganha pão, atuando até como vendedor dos seus próprios discos nas ruas do centro do Recife. Ainda dava, como brinde, o autógrafo de presente aos fãs. Uma vez, minha amiga Vera Ogando me presenteou com um LP de Augusto César, que ela achou em um sebo em calçada próxima ao Mercado de São José. Tenho o bolachão preto até hoje. Uma relíquia. Em uma das faixas, Escalada, claro.
O cantor vai fazer falta, principalmente para os amantes do brega que se sentiram órfãos com a partida do Rei Reginaldo Rossi. Augusto César morreu devido a complicações renais, agravadas pela Covid-19. Mais uma vida perdida para a pandemia, que fez 13.800 vítimas fatais em Pernambuco, desde o primeiro trimestre de 2020. Nessa quarta, foram confirmados 63 óbitos, e 2.480 novos casos da Covid-19. Agora, o estado possui 388.507 casos confirmados da doença, dos quais 39.094 foram a forma mais grave, quando o paciente precisa de oxigênio. O Prefeito do Recife, João Campos, lamentou a partida do cantor, “um ícone da música romântica e popular que faz parte da memória afetiva do povo recifense”. Aos 61, o artista deixa dez CDs e dois DVDs,filhos e netos.
Abaixo, você confira a “Escalada”, de Augusto César. E também links sobre música brega
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Clube das Pás / Acervo #OxeRecife
