A fantástica história do Clube das Pás

Com o salão de danças mais “festeiro” da cidade, o Clube Carnavalesco Misto das Pás completa 134 anos de fundação, neste sábado (19/3), orgulhando-se de ser o clube de frevo em funcionamento “mais antigo de Pernambuco”. E sua origem é tão povão quanto a do ritmo mais famoso daquela que é a maior festa popular do Recife (o carnaval).  Como o frevo, o Clube das Pás também surgiu no meio dos trabalhadores. Ele foi fundado em 19 de março de 1888, pouco antes da Abolição da Escravatura no Brasil.  O Recife fervia de alegria no carnaval, enquanto um navio cargueiro atracado no Porto do Recife precisava ser abastecido de carvão, às pressas, para seguir viagem.

Como não tinha trabalhador interessado naquela tarefa, em plena folia, uma empresa encarregada do abastecimento do cargueiro, ofereceu pagamento dobrado aos estivadores. Daí, o comerciante português Antônio Rodrigues reuniu um grupo de homens dispostos a deixar a folia de lado e tratar de fazer o trabalho por uma remuneração maior. Terminado o serviço e com muito dinheiro no bolso, quatro estivadores –  Francisco Ricardo Borges, Manoel Ricardo Borges, João da Cruz Ferreira  e João dos Santos – botaram as pás nas costas e foram brincar no Clube dos Caiadores. Lá chegando,  tiveram a ideia de fundar um clube. Alguns nomes foram discutidos: Clube das Pás de Carvão, Clube das Douradinhas e Anjos da Boa Vista. No final, foi escolhido Bloco das Pás de Carvão.

O Bloco das Pás de Carvão desfilou nos carnavais de 1888, 1889 e 1890 e em março do último ano mudou o seu nome para Clube Carnavalesco Misto das Pás.   Isso porque havia homens e mulheres em seus cordões. A primeira notícia impressa sobre as Pás foi publicada no dia 4 de março de 1905, no jornal Diário de Pernambuco. A cada 13 de Maio – dia da Abolição da Escravatura – o clube realizava uma passeata pelo Recife, em homenagem ao pernambucano e abolicionista Joaquim Nabuco.

 Alguns clubes carnavalescos criados na época eram oriundos de corporações de operários urbanos e impregnados de elementos presentes nas procissões religiosas, que foram proibidos pelas autoridades eclesiásticas.  Os elementos transplantados se encontravam em cordões de lanceiros, mascarados, diabos, balizas, bobos, morcegos e damas de frente. No final do século 19 e início do 20, surgiram no Recife, além do Clube das Pás, os clubes de carnaval Vassourinhas (1889), Lenhadores (1889), Toureiros de Santo Antônio (1914), Pão Duro (1916) e Pavão Misterioso (1919), entre outros. O clube, que representa o mais tradicional espaço de gafieira de Pernambuco, possui o estandarte mais antigo, datado no início do século  20, possivelmente nos idos de 1910.  E passou por dois endereços  – no Recife e em Igarassu – até chegar a sede atual,  na Rua Odorico Mendes, em Campo Grande.   Àquela época, na Rua Odorico Mendes só havia casas muito simples.

Assim, foi erguida uma palhoça, até ser construída uma sede maior em alvenaria.  O Bloco das Pás de Carvão desfilou nos carnavais de 1888, 1889 e 1890 e em março do último ano mudou o seu nome para Clube Carnavalesco Misto das Pás. Colecionando histórias, tradições e ostentando o pentacampeonato do carnaval – por cinco anos consecutivos – a agremiação faz comemoração bem ao seu estilo. Com o tema Carnaval e Frevo, realiza festa a partir das 20h, com transmissão nas redes sociais do clube.  Para comemorar esta data, o Clube das Pás preparou uma programação especial para seus diretores, beneméritos e associados com seus convidados, além de homenagens a nomes ligados à Cultura, Comunicação e Política pernambucana. Será uma comemoração restrita, porém transmitida em suas redes sociais. Na programação, apresentação de orquestras de frevo, grupo Abre Alas e Guerreiros do Passo, desfile com as fantasias do Clube das Pás e um grande baile. O Diretor Social do Clube das Pás Álvaro Melo destaca a importância dos 134 anos da instituição que mantém a tradição e a preservação da cultura. Através  do resgate do Frevo e do  nosso carnaval. “Somos uma casa festiva com grandes ações sociais nas comunidades vizinhas ao nosso clube. Assim é a gestão do nosso presidente Rinaldo Lima, sempre voltada para os mais necessitados, ressaltou Álvaro”.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Clube das Pás