Estava andando pela Rua Chile, no Centro de Salvador, em novembro, quando tomei um susto com uma voz potente do meu lado, isso porque na calçada não havia ninguém. Não, não era uma assombração. Logo, caí na risada. Eu estava defronte da primeira estátua que “fala” que vira em minhas andanças por tantos lugares. A estátua é de Gregório de Mattos (1636-1696), o Boca do Inferno.
Lembram dele, sempre referenciado nos nossos livros didáticos? Era também apelidado de Boca de Brasa, por conta daquilo que chamaríamos hoje de irreverência, comportamento não muito bem visto em sua época. Gregório de Mattos foi o mais importante poeta satírico da língua portuguesa do Brasil Colonial. “A cada canto um grande conselheiro,/ que nos quer governar, cabana e vinha,/ não sabem governar sua cozinha/ e podem governar o mundo inteiro”, dizia em poema sobre a então cidade a Bahia.
“Em cada porta, um frequentado olheiro/ que a vida do vizinho e da vizinha/ pesquisa, escuta, espreita e enquadrinha/ para levar à praça ou ao terreiro”. Gregório de Matos nasceu em Salvador, estudou em Coimbra e morreu no Recife. Era advogado, e seus poemas tanto podia ser líricos, eróticos, satíricos quanto religiosos. A estátua, por sinal bem conservada (diferente das que a gente vê no Recife ) fica em frente à Fundação Gregório de Mattos. O órgão é mantido pela Prefeitura de Salvador, e administra espaços culturais da cidade, como a Casa do Benim, o Museu da Cidade e o Espaço Cultural Barroquinha.
Veja, abaixo, vídeo da estátua que “fala”.
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Texto, foto e vídeo: Letícia Lins/ #OxeRecife