Massacre de Angico em palco ao ar livre

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Conheci Anildomá Wilians no século passado, no meio de uma polêmica campanha para se erguer uma estátua para Lampião, no Centro do município de Serra Talhada, onde nasceu o cangaceiro mais famoso do Brasil. Houve muita discussão e até um plebiscito para que a população decidisse se a homenagem deveria ou não ser realizada. Admirador confesso do personagem mais famoso de sua terra, Anildomá sempre defendeu que o cangaceiro não é “herói nem bandido”, mas história. Montou, depois, o Grupo Cabras de Lampião para preservar a memória do cangaço. E há oito anos é um dos responsáveis pela montagem da peça O Massacre de Angico – A Morte de Lampião, que será encenada entre os dias 28 e 29 de julho, naquela cidade, localizada a 418 quilômetros do Recife.

A peça relata a vida do Rei do Cangaço, desde o desentendimento inicial de sua família com o vizinho fazendeiro, Zé Saturnino, ainda em Serra Talhada. Para evitar uma tragédia, o seu pai, Zé Ferreira, fugiu com os filhos para Alagoas, mas acabou sendo assassinado por vingança. Revoltados e para fazer justiça com as próprias mãos, Virgolino Ferreira da Silva e seus irmãos entregaram-se ao Cangaço, movimento social que inquietava autoridades e proprietários de terras, entre os anos 1920 e 1930, no Nordeste. Temidos por uns e idolatrados por outros, os cangaceiros serviram como denunciantes das péssimas condições sociais daquela época. E tanto é assim que Lampião virou um mito e, ainda hoje, é cantado em versos por poetas populares. Para o governo da época, Lampião não passava de um bandido que deveria (como foi) ser eliminado. A vida do cangaceiro inspirou Anildomá a escrever um texto para teatro sobre Lampião por um viés mais humano.

“Nossa preocupação é um Lampião apaixonado, que sente medo e  também afeto”, diz. “Também enfocamos a sua guerra, travada contra os ‘coronéis’ e fazendeiros, contra a polícia e toda a estrutura de poder ao mesmo tempo em que ele se mostrava um homem que amava as poesias e sua gente”, relata o pesquisador. Ela afirma que a peça “mistura folclore e vida real e o que Lampião representa no imaginário popular”. Do elenco participam atores de Serra Talhada, Olinda e Maceió. O ator e dançarino Karl Marx, de apenas 28 anos, vive o protagonista. Integrante do Grupo de Xaxado Cabras de Lampião, ele comemora 14 anos à frente do mesmo papel, em outras montagens. “A responsabilidade é grande porque trata-se de uma personagem que mexe com a imaginação das pessoas, que influenciou a cultura popular sertaneja, os valores morais e até o modo de viver do nosso povo”, diz.

“Para mim, que sou da terra de Lampião, que nasci e me criei ouvindo histórias sobre esses homens que escreveram nossa história com chumbo, suor e sangue, me sinto feliz e orgulhoso pela oportunidade de revelar seu lado humano, suas emoções, seus medos e todos os elementos que o transformaram nessa figura mítica”, afirma. O espetáculo acontece em cima de uma ribanceira de terra batida (mas sem ser necessária a itinerância do público e com visão privilegiada para todos) e tem cem minutos de encenação. Conta arrojada trilha sonora, iluminação detalhista e muitos efeitos especiais. Além de Lampião, há outros personagens que foram reais como Maria Bonita, Sila, Maria de Juriti, Zé Ferreira, Sinhá, Dona Bela, João Bezerra e até Getúlio Vargas, presidente na época em que o grupo de cangaceiros liderado por Lampião foi exterminado. O espetáculo O Massacre de Angico – A Morte de Lampião é uma realização da Fundação Cultural Cabras de Lampião, com o incentivo cultural do Funcultura; Fundarpe; Secretaria Estadual de Cultura, Governo de Pernambuco e Prefeitura Municipal de Serra Talhada.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Grupo de Xaxado Cabras de Lampião

SERVIÇO:
Espetáculo O Massacre de Angico – A Morte de Lampião
Período:
 de 24 a 28 de julho
Horário: às 20h
Local: Estação do Forró (antiga Estação Ferroviária)
Entrada gratuita

 

 

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