“Bom Nassau já foi embora / Fez-se a revolução / E a Festa da Pitomba é a reconstituição”, lembra Martinho da Vila, em Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade, quando canta a saga da expulsão dos holandeses, no século 17, na batalha travada nos Montes Guararapes, onde acontece a 132ª Festa da Pitomba até este final de semana. Abundante no Recife, no tempo em que a capital tinha grandes quintais, a frutinha apreciada principalmente por crianças já não é tão frequente na Região Metropolitana. E a Festa em Jaboatão dos Guararapes é a única dedicada à fruta em Pernambuco.
Apesar do avanço da especulação imobiliária e da selva cada vez maior do conceto, a pitombeira (Talisia esculenta) resiste. Ela ainda ocorre no Brasil, em faixa que vai da Amazônia à área de Mata Atlântica do Nordeste, chegando até o Rio de Janeiro. A árvore pode atingir doze metros de altura quando adulta, e rende boas sombras. Lembro que, quando criança, e residindo então em São Paulo, ganhei um cacho de pitombas de um parente que foi visitar minha família. Levei os frutos pra a escola, e minhas colegas adoraram saborear o que chamaram de “coquinho”. Elas não conheciam a pitomba. Os “coquinhos” estavam doces,bem maduros, com a “carne” doce e transparente.
Há várias informações sobre a importância dessa fruta para a saúde,com publicações que asseguram que ela oferece vitamina A e C, cálcio, potássio e ferro. Ou seja, teria ação anti oxidante imunológica, fortaleceria os ossos, seria boa para o sangue, entre outras. Sempre me perguntei se teria, também, ação anestésica ou analgésica Quando está madurinha, nem tanto. Mas lembro que, quando menina, comi um cacho inteiro e o efeito foi surpreendente.
As pitombas estavam verdíssimas e, por isso, com a polpa mais espessa e mais opaca. Resultado: desde então não comi mais a fruta em quantidade, temendo passar pela mesma sensação da infância. É que quando acabei de devorar o cacho inteiro, a boca estava totalmente dormente. Não sentia a língua, as gengivas, nada. Nem que tivesse comido um quilo de jambu, aquela folha tão consumida no Pará e que também deixa a nossa boca dormente, eu teria ficado tão inquieta. E aí uma pergunta aos pesquisadores: a pitomba bloqueia ou não a sensibilidade? Alguém tem ideia?
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife