Mais uma postagem para nossa recém inaugurada Sessão Recife Nostalgia. Estão vendo a paisagem acima? Era o Recife de antigamente. Até parecia Paris, não é? A semelhança não é à toa. Entre o século 19 e o início do 20, o Recife passou por uma grande transformação urbana, inspirada em modelo introduzido por George Haussmann na Capital da França. E, entre outras medidas, elas preconizavam novos espaços de sociabilidade: teatros, passeios públicos, praças, mercados, restaurantes, cafés. Foi nesse contexto que surgiram cafés que fizeram história na nossa cidade, como o Ruy, o Comercial, a Confeitaria Campos e o Lafayette. Os cafés antigos, aliás, foram o tema do último passeio a pé, no sábado, com o Grupo Caminhadas Culturais.
Devido a um compromisso familiar, não pude ir. Mas a chuva não intimidou ninguém (foto ao lado). Recuperei o roteiro, que contou até com assessoria informal de Eliza Brito Santos. Ela é autora de dissertação de mestrado, que é um primor de viagem ao passado: Restaurantes e Cafés: os Lugares da Sociabilidades e Gastronomia da Segunda Metade do Século 19. Trabalho tão bom, que devia virar livro. Apesar de acadêmica, a pesquisa nos dá chance de deliciosa leitura. E já que o roteiro foi sobre os cafés, vamos falar das casas abordadas pela autora.
Ela lembra que nas primeiras décadas do século 19, quando as elites já frequentavam restaurantes no Recife, começaram a surgir cafés como “nova opção de lazer na cidade”. Eles eram mais frequentados por homens, mas a clientela era eclética. “De dia, comerciantes e políticos. À noite e final de tarde: letrados, boêmios e prostitutas”. O recorte da pesquisadora vai de 1850 a 1899.
Na dissertação, com base em anúncios e notas de jornais da época, Eliza enumera cafés que surgiram no século 19, como o Comercial (1867-1870), o Ruy (1878 a 1909), a Confeitaria Campos (1871 a 1881). O primeiro ficava no antigo Largo do Corpo Santo, onde hoje é a Avenida Marquês de Olinda. O segundo, o Ruy , teve dois endereços: na Rua Nova e no Pátio do Terço (conforme anúncios dos periódicos da época). Já a Confeitaria Campos situava-se na hoje Rua do Imperador, número 22. Mas o percurso extrapolou o século 19.
É que roteiro elaborado por Stenberg Lima (coordenador do Grupo Caminhadas Culturais), foi mais amplo. Nele constaram locais onde ficavam cafés mais recentes, como Lafayette (que funcionou até a década de 1930) e a Confeitaria Glória, na qual João Pessoa foi assassinado, em 1930 (foto acima, à direita). A Confeitaria não existe mais. Porém o prédio onde ela funcionava no térreo, existe sim. O roteiro acabou no histórico Hotel Central, sobre o qual falarei em uma outra ocasião.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Internet
oxerecife, belo passeio cultural pelas antigas e belas paisagens do Recife.Compartilhar conhecimento em detrimento à preservação da memória é um prato cheio para as novas gerações que não tiveram o prazer de tomar um sorvete na sorveteria Guemba ou desfrutar das delícias da Confeitaria Confiança. Parabéns pela belíssima iniciativa.
Compartilhar conhecimento em detrimento à preservação da memória é um prato cheio para as novas gerações que não tiveram o prazer de tomar um sorvete na sorveteria Guemba ou desfrutar das delícias da Confeitaria Confiança. Parabéns pela belíssima iniciativa.